domingo, 19 de fevereiro de 2012

assim é meu amor por ti


assim é meu amor por ti

um rio caudaloso
suprido por seus afluentes
a fugir-me da vista
assim é meu amor por ti

num crescente
tão longe de teu amor ausente
choro o pranto tão grande
numa visão que chega ao mar

...

morrerei tão só
como as ondas insones
que se desfazem aos meus pés
memorizo
o vaivém recordante
que só nos teus braços
acho a resposta

ninguém ama mais do que eu
contrário aos que brindam com champanhe
até que outro amor os assanhe
pra outros brindes casuais

como a pedra bruta preciosa
entre tantas iguais
encontrei-te me esperando achá-la
após tantas andanças banais
desde então senti-me homem
ex-aventureiro
chegava ao fim meus dias iguais

assim é meu amor por ti

como ocorrer das águas que acham o mar
como a pedra no meu caminho
assim é meu amor por ti

és tão naturalmente minha
num sonho que não envelhece
por isso inicio minha prece
com jamais te esquecerei

mesmo que o rio seque
e o mar vire deserto
o que sei ao certo
é sobre a imutável
natureza de meu ser

há um palácio nos esperando
és a pedra fundamental...

assim será meu amor por ti












o braço que me abraça.

o braço que me abraça
quis abraçar o mundo
respira fundo
diz-me uma palavra sem graça

o braço que me abraça
é barquinho n'água da chuva
que logo se desfaz

o braço que me abraça
sua força logo se escassa
meu abraço não lhe apraz

se volta pro mundo
num segundo
leva à minha paz

quando se ama
o sentimento perde a flama
na distância
criadora de castelos
que num átimo nos engana

o braço que me abraça
parece pirraça
dum corpo fugidio
sempre no cio
que quando me chega
meu lindo dia embaça

o braço que me abraça
ilude-me sensual
que até memorizo
construir o amor dela por mim
sem que haja braço que o faça










sábado, 18 de fevereiro de 2012

a vida me fez assim.

amarei as almas
na devassidão das noites
se melancólico estou
e a alegria deles
fere-me com açoites

amarei a vida
se a pessoa mais querida
fez-me alma sofrida
e se foi senil
sem se despedir
num lindo dia primaveril


amarei meus companheiros
se à boca pequena
são corvos matreiros
dentro da sujidade social
vivem só de momentos
sempre se lambuzam
e de suas bondades
só vejo excrementos


amarei as mulheres
numa mesa de pôquer
se só eu não sei
que as cartas estão marcadas
pro bobo-da-corte diverti-las


sempre amarei
saber-me o último das filas
pra ver o canto desesperado
a simplicidade no falar
do humilde não humilhado

amarei as alvoradas
os pássaros em revoadas
as piracemas da procriação
alguns homens ilustres
soldados da não-extinção

amarei a majestática porção
que nem sei se faço jus
amarei a flux
o básico de cada cidadão

amarei poder amar
tão pequenas coisas
como o flerte
dum casal edênico apaixonado
despedindo-se à beira-mar

amarei o grito louco
meio a um ciclone
dum imprestável aventureiro
que bata às minhas costas
e me direcione aos poucos
aos poucos risque o chão a giz
resquícios de amares que me restam

se nada se renova em minha memória
senão meu repúdio a fatos vis
digo que sempre me amarei
pra poder dividir
poucas lições que me prestam









desânimo.

o sol
a lua
a vida passa
eu numa nova rua
sem graça

vestígio doutra
passou
virou fumaça

brindo a esta
logo meu cálice estilhaça

vivo querente
mais e mais ausente
tristeza me ameaça

já cansei das andanças
fui falante
emudeci
perdi as rédeas
fatiguei-me
de cavalgadas mansas

a vida passa
passou
sem graça
uma nova rua
meu peito doído
rechaça