quarta-feira, 1 de junho de 2011

desnatural

voo arisco
revoada faz clarão
o filhote no bico
tiro certeiro
gavião no chão

dizia o iletrado caipira
de a sabedoria ser
a menor anti-intuição

domingo, 15 de maio de 2011

Por que não ponho os pés pelas mãos.

Por que não ponho os pés pelas mãos.

Tico é um cara pirado, que lê livros alheio à
maxiinformação. Eu sou um cara centrado,
que acha que no fundo o Tico tá com a razão.
Às vezes penso que vivemos na era da
bestial virtualização. Conheci um cara,
querente duma vida vida virtual, que me disse
que o Tico era meio que jurássico. Num português
clássico respondi-lhe: "ora, filho da evolução,
quer-quer saber de tudo... na verdade não
sabe nada; deixa de ser vagabundo, aprenda no
Google como usar uma enxada."

Tico, em nossa última conversa, relatou-me por a+b
que a felicidade é fantástica, que usou a Internet
como fonte de pesquisas a fim de elaborar uma tese
sobre o mais novo vício humano: 'A sensação de estar
on-line.' Eis o título da tese do Tico: ' O maior crime
que se pode cometer, hoje, contra a democracia, é
o de censurar a navegação e os navegantes do bem.'
Pois é... a umas décadas atrás, uma carta demorava
alguns meses pra chegar ao destinatário...

Tudo bem que a rede é uma faca de dois gumes.
Como sou otimista, digo que é um bem necessário.
É um mal, por conta dos mensageiros do caos
e da desordem, das fetichiosas e frustradas
mentes pornográficas, dos pedófilos plantonistas
e afins, dos invasores virtuais (hackhers), dos
ladrões oportunistas e a banalização do
besteirol. Fazer o quê?! Onde o bem se alastra,
o mal vem a reboque.

"Ô Tico! Preciso duma noção geral do uso e abuso
do lixo virtual que entope a caixa de entrada dos
meus e-mails. 99% é inaproveitável como informação!...
Se bem que não há nenhum mal nisso, né não?"

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ESCALADA.

ESCALADA.



Esta vida é mesmo uma escada.
Uma, de sobe e desce.
Quem sobe, sorri.
Quem está no auge, de repente, desce.
A sorte é amiga de poucos.
Entre tantos mais,
vejo mais um que se desiquilibra e padece.

Soltei rojões, meio a foliões,
mas nem sabia o que comemorava;
nem sabia que, pra pedir, eu podia
estar em qualquer lugar,
-- de pé ou de joelhos --,
que minha queda fosse suave,
a um ser supremo eu clamava

em gritos,
em frases maltrapilhas
que, como lâminas me sangravam;
que, num dos hospitais de terminais,
eu acabara de entender que a vida
era como a Lua numa fresta de janela:
que chega mansa e silenciosa,
inanimada... e se apaga
como um corpo que morre
e renasce noutra noite
sem que se possa mudar
o quadro abstrato, tal a visão
dum coração frágil, pois,
se não se entender seu ciclo,
a vida não representa nada.

Somos passageiros livres,
pensadores livres,
aprendizes febris em busca da paz,
tão abstrata e perseguida, mas...
há um tempo na vida
que todos os conceitos e preconceitos
descartamos;
que toda riqueza é a mansidão do rio cristalino,
é o pensar que as águas levam;
é a revelação da única razão dum ser,
'doentio ou não'
que está no poço fundo,
no ápice dos risos fugazes;
é a imperfeição perfeita;
é o sobe e desce;
é a escalada de sangue, suor e lágrimas...
e patéticos profetas gesticulando nas praças;
é a indústria -- as filiais, a produção serial
de temas decorados no livro...
é a escada milagrosa;
é a rosa no roseado duma face;
sou eu, perdido nos degraus
desde os primeiro choro...

Meu norte são direções que,
sem destino certo,
minha aversão a meu fim me motiva
a esperanças fugidias
que, por si mesmas, à natureza dos fatos
me envolve como a mão energética
dum deus-astronauta
que comanda todos os astros.

sem título

"o escuro
tua presença clareou

o claro
tua ausência escureceu"

o amor é
porta que se abre
porta que se fecha

o tempo
o tempo de amar
o tempo vem buscar

até que outro
ocupe o lugar
no engano cúmplice
de se seguir adiante
sentir-se feliz
por saber-se enganar

noite e dia
luz escura
no negror de quem procura a luz
a porta certeira
do futuro logo ali
ao alcance
tão vago-vazio-doentio
a ser preenchido com sonhos
incuráveis...

ANDORINHA QUE FAZ O MEU VERÃO

Andorinha que faz o meu verão.


quero-quero
uma paixão desigual
espero que me espere
ó fulana de tal
nem que isso gere
notícia no jornal

pois, se te quero-quero
pra trocar um lero
poderás dizer por aí
que sou mesmo espacial

que as normas infringi
de tanto querer-te
meio que astronauta
gravitando em torno de ti

"oh, the earth is blue"
"i'm a fool"

mas te quero
estás pra mim
com roma pra nero
que pôs na cuca o quero-quero

(será que contabilizaram as andorinhas
que, nos ninhos, foram assadas naquele
fatídico dia?)


contudo, fulana de tal
num contraponto
digo-te

és a andorinha que incendeia meu verão
embora eu não seja deste planeta

como loucura pouca é bobagem,
é estar fora de órbita,
procure no obituátio do jornal de ontem
e certifique-se que já morri, ou melhor,
que morreu um cara de nome e idade
iguais aos meus. descreia. pura coincidência.
as letras conspiram contra mim e etc.

vale a ideia e o desejo.
falando em coincidência, o periquito
do realejo embicou um cartãozinho
que dizia assim:

"quero-quero
por ti espero
pra depois dum lero
irmos às alturas"

por isso escrevi, meio aéreo, esta
proesia, ou salada de gêneros
não genérica, pois, às vezes,
minhas carências saem ou soam
irônicas, ironizadas...

4 Sementes.

4 Sementes.

Conheci um cego que tinha a luz que jamais
eu tivera até àquele instante.
Conheci um mudo que escrevia sobre o belo
que até então eu desconhecia.
Conheci um surdo que me maravilhou ao
divagar sobre o som do silêncio...
E continuei meu trajeto, até deparar-me com
um homem em estado terminal, que me disse
que gostaria de ser cego, surdo e mudo, mas
que inda pudesse viver um pouco mais...
O homem me olhou e, com os olhos cheios de
vida, ressaltou que eu era um ser normal,
portanto, um ser feliz...
Respondi-lhe que minha doença era a febre
constante rumo à felicidade, e que, minha estrada,
por demais longa, até chegar a ele, fora assim :
...a de me condoer pelo próximo em tentativas
solidárias; e que, em algum ponto dela, jazia
a felicidade que sempre me fora cega, surda e
muda... e que...que o seu momento, era o
inverso do meu, pois, de mim, inda restava um
corpo em trânsito, transitório, judiado pela lida...
E segui adiante, refletindo a respeito de nossa prosa.
Cheguei a conclusão que a Felicidade é só um
estado d'alma que pode consertar o mundo...
Até desejei plantar quatro sementes pelo resto
do caminho que me faltava pra tornar real
o que eu sentia, talvez como um marco
biográfico que diria inconteste aos transeuntes:
'Vida, eu passei por aqui".

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

sem título

sem título.


um dia
um homem que folgava com a sorte
me disse
se eu tinha medo de ser eu mesmo
medo de viver

respondi
que apenas tinha medo de ser o outro
e esquecer-me de mim

que com esse medo
eu jamais viveria


gravei


hoje ele representa personagens
eu me apresento - ainda -
em busca de mim

não sei qual de nós é o menos e mais feliz
tento não me enganar

e se de enganos também se vive
cada um é feliz do jeito e o quanto pode

ninguém é 100% feliz
nem 100% infeliz
donde concluo
que o viver é meio ermo
que a vida tem sim meio termo