textos de minha mocidade
(1978)
o meu querido jambeiro.
quando eu era garoto
lá no orfanato que eu vivia
plantei, no quintal, uma mudinha
atrás de minha janela
pra um dia eu brincar nas suas galhas
sem me importar com as migalhas
e os rumos que a vida sela
eu regava
ela crescia
ela era meu amor
minha mocinha
um dia ela me daria seus frutos
numa espera menina
tão feliz a cegar-me a dor
então
veio a triste despedida
quis trazê-la comigo
mas os adultos disseram-me
que ela perderia a vida
e riram e riram
já que só viam à flor d'água
alheios à minha vontade imersa
quando lhe disse adeus
em nossa última conversa
fui adotado
num instante mudou-se minha sina
...
hoje sou homem maduro
dias atrás fui visitar o orfanato
saudoso em revê-la
me vi correr numa estrada colorida
a meu primeiro amor da vida
ela tão florida
rebrilhou na minha retina
parecia uma estrela
raios de sol no telhado
numa lembrança
que a 7 chaves trago segredista
vi que ela nunca precisou de mim
ali tão órfã
saudável e sozinha
chorei por lembrar
de minha vã aflição
em noites que eu não dormia
e tudo que ela frutificara
só vivera em mim naqueles dias
olhando da janela
nunca mais tão bela
cultivei a pureza que eu via
desde então sem mais amar
se era amor o que eu sentia
de lá pra cá
sobrou-me um espaço branco
o relento duma alma fria
entre tantas irmãs
onde repousa só
só uma árvore vazia
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