sexta-feira, 23 de abril de 2010

batel do destino

batel do destino


ô ô ô batel
no mar que balança
sem vela sem poita
fuga alcança
da vida que açoita,

ô ô ô gaivota voa
não me deixe só
minha esperança
segue comigo
nem que no peito
um amor antigo
o lembrar me doa,

ô-ô-ô batel
ô batel
pesca é meu destino
desde menino
com suor e pujança

ôô batel
me leve o vento brando
a água mansa
longe deste mundaréu

batel, batel
siga a gaivota branca
plena de confiança
planando livre lá no céu
parece que de mim tem dó

o mar lá atrás
tem o sal que me magoa
por isso remo só
com a rainha na proa

ah, iemanjá
do mar patroa!
ah, solitária gaivota
há um porto à frente
felicidade na rota!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

não tenho saudade de minha sogra.

não tenho saudade de minha sogra.


dois bocós-de-mola
bem na hora do despacho
raptaram a mala sem alça
poço fundo
de maldade e esculacho.

eles nem sabem
que enfiaram a mão
no balaio duma cobra
pinta brava fofoqueira
a diaba de minha sogra.

antes que eu me esqueça
tenho dó desses caras
que arrumaram pra cabeça.

o bagulho é doido
pediram recompensa
mas se abaixar o santo
na cascavel encrenqueira
sacode a capoeira,
vai dar B.O. na imprensa
seu veneno
mata mais do que doença.

a velha é brincadeira
quer mandar na minha vida
pegar a grana de minha carteira
às vezes me pergunta
se meti a noite inteira.


na hora do resgate
vou mandar dizer que não estou
vou rediscar 190
trocar um lero:
"por favor gambé
fiquem com essa velha biscate!
ela é pior que bicho de pé
pior que trem sem engate!"

tomara a polícia
num ato de sensatez
fique com esse estrupício
pra tirar a paz aí do xadrez,

antes que ela apareça
tenho dó desses caras
que arrumaram pra cabeça.

o bagulho é doido
no cortiço e na rua
a recompensa pago em dobro
mas mandem essa velha pra lua!

nesse samba
antes que me esqueça
esses coitados
arrumaram pra cabeça.

vou pegar meu vale
na sexta-feira
deus!
era tudo qu'eu queria!
arrastar a nega Flô festeira
filha da chocadeira
curtir meu prêmio de loteria
sapatear tomando todas
lá no morro na gafieira.

a velha dançou
o feitiço virou
contra a feiticeira.

antes que eu me esqueça
os dois raptores
arrumaram pra cabeça.

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bocós-de-mola: tolos
despacho: trabalho feito na encruzilhada
ou na cachoeira para atingir alguém pelos
umbandistas.
B.O: boletim de ocorrência
190: disque polícia.
o bagulho é doido: gíria para resumir uma situação
desconfortável, insólita, etc.
pegar meu vale: adiantamento salarial.
que arrumaram pra cabeça: que se meteram em confusão.
trocar um lero: conversar.