terça-feira, 11 de janeiro de 2011

sem título

sem título.


um dia
um homem que folgava com a sorte
me disse
se eu tinha medo de ser eu mesmo
medo de viver

respondi
que apenas tinha medo de ser o outro
e esquecer-me de mim

que com esse medo
eu jamais viveria


gravei


hoje ele representa personagens
eu me apresento - ainda -
em busca de mim

não sei qual de nós é o menos e mais feliz
tento não me enganar

e se de enganos também se vive
cada um é feliz do jeito e o quanto pode

ninguém é 100% feliz
nem 100% infeliz
donde concluo
que o viver é meio ermo
que a vida tem sim meio termo

Apenas um porto distante

Apenas um porto distante.

Tive um amor que brincava no parque gramado,
ao lado dum palacete. Ela era tão linda, intocável.
Não sabia de minha existência nem sequer que eu
era um príncipe.

Tive um amor jovial -- também linda, de rostinho
angelical -- que eu chamava de menina-colorida, que
curtia Beatles, Stones e lia Shakespeare, Camus,
Kafka, e, na época, poderia estar de rolê numa
rua de Sampa, Nova Iorque, Londres, ou talvez
num sarau de malucos numa praia selvagem qualquer.

Tive uma amor, aos 35, dumazinha que conheci no trem,
que nem sequer sabia se expressar. Mulher rústica e
sem maquiagem, insaciável sexualmente e carinhosa
ao extremo. Havia uma diferença abissal em nosso
confronto intelectual. Vi que nem os livros, os puteiros,
nem as baladas, nada, nem minha experiência serviram
de anteparo aos perfis que eu até então desejara.
Perdi-me de paixão.

Hoje, velho, estou só -- relendo os postais antigos de flertes
amorosos que vivenciei. Acho que caras como eu amam
muitas mulheres, até as idealizadas desde a infância.

O que eu mais quero é que uma mulher de verdade
me encare olho no olho, que me puxe pela camisa
e me diga: "Eu te amo. Antes de te conhecer eu
nunca soube o que é amar. Dou-te toda liberdade
do mundo, mas faça de mim o teu poema. Veja em mim
você no sexo oposto. Vá e volte: eu espero.

Acho que não busco mais as diferenças comportamentais,
de estilo de vida e quetais. Busco uma companheira que
seja humilde sem humilhar-se. Talvez eu nunca perca
meus sonhos infantis, joviais...adultos. Há muito deixei
de ser exigente quanto à estética feminina examinando-me
minuciosamente frente ao espelho. Não quero me tornar
um velho rabugento, pois, até para eu recriar
novas fantasias, penso que morrerei monologando
sobre o sentido da vida nos três tempos do verbo sonhar.

Desejos são pendentes desde a semente... do primeiro choro.
Mas, falando francamente, há algo mais importante: são
os princípios básicos da existência. Talvez o resto
sejam os componentes secundários que se vai
recolhendo conforme a idade. Será?

"Nunca quis ter coisas valiosas demais. Não.
Penso que o amor é sem-fronteiras. É um dom
gratuito, sincero como o orgulho que tenho
de um dia ter me sentido ingênuo."

no lucilar dum amor vívido

no lucilar dum amor vívido
interminada

a mulher que hoje me abraça
já me abraçou por amor

o valor do meu abraço
pra ela descaso se tornou

é difícil ser amigo
no pós-romance
de alguém que ainda gravita
no recôndito de minhas entranhas
ter que manter as aparências
e trocar paixão por especulação
enfim
teatralizar

minha mente é uma luz frágil
e toda minha energia
alumia meus olhos teimosos
cegos à matemática do tempo

quando num momento
a mulher que me abraça
me diz: "a gente se vê"
dá-me às costas
pra se aquentar noutros braços

como sou otimista
ou finjo ser
se um dia ela vier
e me der um novo abraço
tão frio
tão vazio
sentirei sem saber explicar
quão incurável é esta lembrança
que a vivência faz-me descartar
embora não a esqueça

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

quando um ato vale por mil sonhos.



quando um ato vale por mil sonhos.


tinha um homem que sonhava e sonhava
inerte
nunca atrás de seu sonho correu

esse homem envelheceu
sem nunca se esquecer
de sonhar e sonhar e sonhar

um dia sonhou que morreu

e correu e correu
pra do sonho acordar
no afã de resgatar o tempo perdido
.

nunca é tarde
se a dor que mais arde
é a relembrança do que não aconteceu

se o que nele sempre preexistiu
(num ato)
o sal da vida
veio lhe adoçar o desgosto

POEMA (QUASE) PORNÔ

poema (quase) pornô.

era um vício
mais forte que minhas convicções

noites e noites maldormidas iludi-me
pela puta matemática
que não se bastava de sempre pedir
+ + +...
$ $ $...

'ah, minha predileta
tão estática
sem fundo
eu adorava pôr tudo em ti
...
até o que não tinha...
[lembro-me o quanto eu improvisava no ato
...até minha esperança de uma vida melhor,
mas sentia que o efeito colateral fosse
divisar meu futuro debaixo dum viaduto...]

pois é.
um dia:
INDEPENDÊNCIA E/OU MORTE
(uma paráfrase dompedriana)
fui forçado a abandoná-la
[confesso que entristeci, chuá, chuá]

mas...
eis que vi nascer um novo homem em mim
...
desde que o governo proibiu
os bingos de máquinas caça-níqueis


um aparte:
"sabe que, com as economias que fiz desde então,
conheci uma puta e a levei morar comigo.
ELA ADORA METER
a mão no meu bolso e tatear meu instrumento
como se apertasse uma tecla. aí me diz:
"cadê meu brinquedinho?"

eia!
hoje
em noites maldormidas
desiludo-me-me
me-tendo
como um felizardo
que bate o bingo várias vezes .
[ei! não é papo, embora eu reconheça
que nós, homens, temos uma tendência nata
em mentir... aumentar de leve]










































































tendo