quinta-feira, 26 de agosto de 2010

onde me vês estou

onde me vês estou.


hoje eu comeria
o pão que o diabo amassou
pra te encontrar

e simplesmente
dizer sim à vida
sem medo
de morrer em teus braços,

hoje
uma porta se abriu
a um rio
um barco me levar
ao sonho primaveril
guardado no olhar


não posso me conter
na senda deste destino

de pés alados
no afã sem controle
a achar tuas pegadas
no deserto
onde vaga incerto
neste curumim
o desejo enfim

a ti chegar

se me disseres
que até o último suspiro
me esperarias
no muro da última estrada

no olhar distante
confiante
de que em meus braços
também morrerias por mim

alegria, alegria!

alegria, alegria!

olha a alegria todo dia
maria fumaça que não vem
e me faz buscá-la
sem escala
daqui no trilho além

eta vagão da vida passageira
que vai a mais de cem
longe desta mangueira
tem a fruta que me apraz

por detrás do monte
lá se esconde
minha razão primeira
um sorriso fugaz
que fugiu da coleira
na cartada certeira,
vitória de um ás
a um passo da ribanceira

ô seu maquinista
quero chegar em fugacity
pra ver a primavera
quando eu fechar o livro
da janela de seu trem

apita que tá chegando
o moreno galante
pra morena falante
na estrada desta vida

quebrar o quebrante
da viagem aflita
que se tornará bonita
a tudo que eu não via,

é que só agora vi
o trem da alegria
que passa logo ali

piuííí!
tá me chamando
piuííí!!
tô embarcando,
laiá-lá-pra-lá, laiá...

sábado, 21 de agosto de 2010

à face do dia.

soneto. 1 está certo 12 sílabas



à face do dia.
não me roube o tempo o terno catavento
da mão menina a tatear este encanto
que correrá sem a dor do esquecimento
pra renascer o riso depois do pranto

não me cubra o mal com o seu negro manto
meu afã e crença à busca do firmamento
se minha cruz torna-me mais e mais santo
com frescor natural que pueril ostento

não roubem as flores deste meu acalanto
nem a modéstia deste raro momento
se no meu ser poluído paira o recanto

disfarçado no verbo viver cinzento
a roubar as flores que agora decanto
cada vez mais cálidas no experimento.
soneto. 1



não me roube o tempo o catavento

da mão menina a tatear o encanto

que correrá da dor do esquecimento

pra renascer o riso depois do pranto



não me cubra o mal com seu manto

meu afã e crença no firmamento

se minha cruz faz-me mais santo

com o frescor natural que ostento



não roubem as flores de meu acalanto

nem a modéstia dum raro momento

no meu ser poluído há um recanto



disfarçado no verbo viver cinzento

a roubar as flores que ora decanto

cada vez mais cálidas no experimento.

cantiga

cantiga. 1

portas abertas.


tinha uma véia florinda
que não sabia
não sabia o beabá

quis saber da coisa linda
do mundo
do mundo do lado de lá

aprendeu muitas palavras
hoje tem tanto tempo
tanto tanto pra sonhar

..................................................

cantiga. 2

vésper.

hoje no céu ameno
vésper pode-se notar
até deus vê meu aceno
se olha pro meu lar

o brilho lá sereno
cai cá no meus olhos
pro vésper ver passar

no azul supremo
que longe beija o mar
menor que o afã pequeno
mais e mais dobrar

hoje no céu ameno
tem um rio pleno
um barco me levar
molhado de sereno
até vésper voltar

poema idiota numa noite apaixonada

poema idiota numa noite apaixonada.


o alfaiate com seu molde
faz muitas peças.
o fundidor com sua matriz
faz milhares de peças.

bendito espermatozóide
campeão de natação
que entre milhões te formou.

eu
que a vi
desde antes de tua primeira menstruação
agora moldo com os olhos
tua forma única
sem ser artesão de nada
tateando suavemente a argila

exemplar inspirado
em teu corpo nu
que
insaciável
nunca hei de tocar
nem terminar
tuas medidas anatômicas

neste barro
deste barro ao pó.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

num triz sem bis


num triz sem bis.

(de minha nova série de contos 'Conta que eu conto'.


Num lugar ermo achava-se catando coquinhos, nu,
sem saber que estava cercado por um bando de índios
-- tarado, homossexual e irracional -- que nunca haviam
visto uma bunda branca pela frente. Todos com suas lanças
na vertical.

Correu desesperado pela mata densa no dia tempestuoso.
Um raio às suas costas partiu o tronco de um ipê-roxo
e às sequelas o deixaram desacordado.

Quando acordou todo dolorido, notou que havia sido currado
pelo bando. Tramou e, numa noite de lua minguante, ateou
fogo na aldeia indígena. Mas fora avistado. E, novamente
correndo pela mata virginal, chegou à beira do grande rio
caudaloso e de águas barrentas. Ao virar-se, de repente,
como por encanto, viu os índios atirarem-se de bruço e
lamber o chão úmido, em reverência.

Não notara, mas ladeando seu corpo uma enorme sucuri
tinha quase meio corpo acima da flor d'água.

Entrecortou o enorme rio e viu uma barcaça a motor que
vinha pelo lado esquerdo (oeste) à meia força, silencioso.
Ignorou a cobra, nadou e foi recolhido pelos navegantes.
Contou sua história e ficou sabendo que um cineasta
alemão e sua comitiva que, aliás, tinham invadido o Brasil
pela Amazônia Colombiana -- estavam filmando a terceira
versão de "Anaconda", e a cobra que fez os índios caírem
com o rosto em terra era feita de resina e papelão por
artesãos brasucas do Rio Grande do Sul.

Foi interrompido em seu relato pelo roteirista e câmera-man
-- num arrastado portunhol de mais gestos que palavras --
que lhe disseram que haviam filmado a cena toda e se ele
poderia voltar a catar coquinhos e que ficaria famoso
em todo o mundo se recolocasse sua bunda branca a prêmio.
No que ele respondeu-lhes que pimenta no cu dos outros é
refresco. Os dois rebateram e lhe explicaram que certas
cenas são impossíveis de se fazer em computação gráfica.

E o título do fime seria 'Anaconda pede bis na toca por um triz',
mas ainda dependia do ok do diretor que o entreolhava
com uma cara de safado...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

PIF-PAF

PIF-PAF
(Chico Estradeiro, um andarilho)

Meu mano, depois de beber e cafungar a noite toda,
passou por mim e me perguntou quem era ele.
Repliquei dizendo que ele era ele. Mas ele treplicou
e disse-me que eu era ele quando a doideira passasse,
se bem que desejava continuar doido pelo resto da vida.
...

Tirei da carteira uma foto 3x4 e lhe dei. Aí ele sorriu e
me disse "Tchau, meu eu!". Ahn! -- respondi -- Falô
meu você! (?)".
Por um momento quis estar na pele dele. Mas será que
não estava à baila minha caretice toda?...
(pensei em fumar um basic pra destrinchar a questão).

...

Semana passada me chegou a notícia que ele morrera de
overdose num sarau de malucos no litoral norte, onde
o cachimbo da paz passava de mão em mão. Aposto
que ninguém mais sabia de si àquela altura do
campeonato.

...

Éramos bem parecidos. Ontem fui visitar seu túmulo,
com uma flor de plástico jogada ao lado, no cemitério.
Vi que a foto da placa era a minha, a que eu havia lhe dado.
Mas me chamou a atenção o epitáfio:

"Vou pra não sei onde,
mas não esquecerei os malucos
que aqui deixei.
Sou você amanhã."

...

Porra! Mas não é que é? Me caiu a ficha face a tamanha
sobriedade... Eu sou você, você é eu...
Somos todos farinha do mesmo saco de quem faz o pão
alimentar pra tudo virar bosta... pra bosta virar adubo...

PIF-PAF! Esta vida é mesmo um jogo rápido.
Serão os corpos espíritos que saem dos espelhos?
Tô endoidecendo ou será que assimilei e fui contagiado
pelo afã libertino que ele me passou? Sei não.

SOBRE POETAS, POETAÇOS & OUTROS.

SOBRE POETAS, POETAÇOS & OUTROS.



há poetas que escrevem muito, imaginam muito
e pouco dizem.

há poetas que escrevem pouco, imaginam o suficiente
e muito dizem.

há poetas que não escrevem nada, mas deles os que
escrevem pouco e muito dizem.

"de poeta e louco
todo mundo tem um pouco"
(dito popular).

uns escrevem, outros não.
muitos ruins,
poucos bons.

mas não deixam de ser poetas porque o que os
diferem vai além da imaginação do pouco e muito,
do bom e ruim, já que o ato de escrever é,
do eu verdadeiro, a continuação.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

eta nega empacadora, sô!

eta nega empacadora, sô!


nega neguinha
que-qui-cê-qué
sai da minha cola
vai pra escola ensaiá
sei lá sô
eu vô pro maraca
ver o mengo jogá
mengooooo
mengooooo...

neguinha
num faz samba c'as panela
vô te levar tomar um passe
c'o a cabocla stela
s'ela não a resolvê essa mandinga
encho os cuião de pinga
só volto quando manhecê

nega ô neguinha
me faz um chamego
vida de nego
num tem segredo
é só tê uns troco
cá gente é feliz sem sabê.

nega... ah, neguinha!
óia
não dá bobera
depois do jogo
tem pagode no alto da lapa
o coro come
parece brincadera
num faça banzé
samba sambando
me faz cafuné

vamo dá um taio nu visu
vem nega vem
sem barraco no barraco
hoje num vamo comê chuchu

ih, nega
será que o zico vai jogá?

escuita
mengoooo
menngoooooo...

vento ventania

vento ventania.


vento ventania
me leva daqui
quero na brisa do mar
alçar voo como colibri

tirar o néctar de tudo
do pouco que tem aqui

vento ventania
me inspira só por si
quero a flor mais bela
que mora logo ali,

do ocidente oriente
também ela há de partir
me achar num olhar
uma rede dividir


ao vento ventania
meio à folia
de um coqueiro resistir
ir e vir sintonia
telepatia
em palavras tolas
como conto de saci

uma ilha
mato verde
entre muitas flores
sem dores escolhi
uma sereia de amores
que me espera lá diante
nem sabe se chora ou ri

ao vento ventania
em que plaina leve
livre o solitário colibri

lá-lá-lá...lá

alguém atenda, por favor! (ocupado...)

alguém atenda, por favor! 



quis pegar o táxi mortal
na beira do mar
escuro de seu resumo
ora imerso
ora emerso
riu como o palhaço
no picadeiro
que leva a vida a sério

ia e vinha pelos cômodos
de quês irrespondíveis
ora gostava e morria
ora odiava e vivia
no puleiro de ideias
como o pássaro irriquieto
na gaiola seu muro
a separá-lo do normal

precisava duma voz
qualquer voz
que saísse do pêndulo
de um relógio
ora pra lá
ora pra cá
um sim um não!

por um triz
perdia o jogo...

já o motorista o aguardava
na frente da porta
buzinando em eu ouvido
frases barulhentas de morte
descartando as cartas da sorte

um número!
qualquer número!
qualquer desconhecido
de uma lista telefônica!
uma supersônica mensagem!
um beliscão!
um toque!
um choque vertiginoso!
uma fuga impossível!
explosão!
e o silêncio imortal
de um olhar ao céu


discou a esmo
em sua teoria existencial
uma voz disse-lhe 'fique'
não apresse os dias
sofra um pouco mais
sorria
ironize à condição humana
de milhôes como você
virando-se na cama
quanto mais se expandem
mais o isola

a solidão é a metade
que te faz inteiro
afogue-se
em suas mágoas
e perca de vista
a imensidão do mar
e perca essa coragem
de derrotar-se

alguém atenda
diga um oi
ele precisa sentir-se vivo
quando o vizinho lá do prédio
apaga as luzes
pra acender seu desespero.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

não mais agora




não mais agora


Não que eu fuja das prisões de sua hipotética cabeça,
mas a estrada que percorro é demasiada turbulenta.
Os meninos que imagino são antirreligiosos, de pais
que há muito observo e bebo em todos os bares, como
se todos os dias fossem de festas lucrativas.

Não me entristeça com seu falso falar. Se suas razões
fossem as que espero, não me manteria aqui, estático
nesta sala reflexiva, esperando a morte chegar.
Mas os religiosos de sua laia continuam contrastando
suas crenças, fazendo-me vítima de seus próprios
desabafos. Ufa!

Não que eu tenha medo de continuar, não. Os alicerces,
que aguardo a tempos, são apenas epílogos e, o fim
de meu ideal, planejo desde data imemorial. Não que eu
seja o cavarde nesta encenação toda, mas se ainda
consigo pensar, imaginar, é porque consegui ver que
a meu lado somente cães me lambem. E o por quê
de tantas histórias no final de mais um longo dia?

Contudo, com você mais uma vez celebrarei. Amanhã
quem comandará o barco será eu. E, quando sentir-se só
terá os pesadelos por que passo. Assim, nunca mais
sorrirei a idiotas tal você. Meu papel, na peça, escreverei
a meu modo. Minha estrada será um teto sem paredes.
No mais, sobre sapatos de ouro andarei. Se meu maior
inimigo me alcançar com conversinha de 'em nome de Deus',
vai se ferrar, levando minha foto pra colocar em seu caixão,
com rezas de uma religião bem solícita em tais horas.


pia-piá

Amélia 21

Amélia 21.
Ele, soltando o verbo, de lá pra cá no fundo do quintal:
-- Mulher tem que esfregar roupa no tanque! Mulher tem
que fazer minha comidinha na hora que eu quero! Mulher
tem que passar minha roupa... e me esperar cheirosinha
na cama... espremer minhas espinhas nas costas...

Em seguida, a esposa chegou do trabalho:

-- Oi amor, que saudadinha de você! -- todo meloso --
Já arrumei o quarto, lavei a loça, passei umas peças,
limpei o chão, o banheiro, dei um lustre nos móveis
e esfreguei suas calcinhas. Olha, a casa tá nos trinques!
Ah, fui na loja e comprei a tinta de cabelo no tom
que você me pediu, amanhã pinto teus lindos cachos, tá?

-- Você preparou meu banho? Estou exausta! Fez aquele
macarrão alho e óleo com filé de peixe pra mim?
Deu brilho nas minhas sandálias?

-- Claro. Ah, amor, vou no bar jogar conversa fora,
comer um torresminho e tomar uma cerveja, tá?
Você vai fazer uma fezinha no jogo de bicho?
Então aproveita.

E, no caminho a mesma ladainha interior:
"mulher isso, mulher aquilo". Uma empregada, ah,
nem pensar, seria o fim do casamento... Imagina
que a Amélia o deixaria o dia todo com uma companhia
feminina!? Sem chance.

Quando chegou em casa, meio que caçando galinhas,
encontrou a porta do quarto trancada e dormiu no
sofá. Um enorme vazio tomou conta de seus pensamentos.
Precisava arrumar um emprego urgente, pois aposentara-se
cedo, jovem, por conta de um problema na coluna.
Diarista talvez? Taxicista? Mas duro seria receber uma
"comida de rabo" logo às seis da manhã quando a fera
sairia da jaula.

Alisou a cadelinha tão carinhosamente se autointerrogando
sobre a rotina chata em que se encontrava e sentiu saudades
do tempo em que trabalhava de pedreiro. "Pô! a mulher não
podia ser como a cadela." E dormiu.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

dorme ó minh'alma


dorme ó minh'alma.

dorme ó minh'alma
que meu peito vivifica
à robustez implícita
na leveza de meu ser

dorme ó minh'alma
no alvorecer por ti espero
impaciente
despertar tanto quero

dorme ó minh'alma
nos confins do nada
por ti repudio
minha vida enganada

dorme junto comigo
alma sem castigo
em mim se refugia
teu silêncio

todo meu fingir
pra renascer
intenso

sem o enfado
da efêmera ferida
tão aqui pressentida
a cegar-me
no ninar invisível
de assim morrer

e frustar-me sem dizer

dorme ó minh'alma
me faça par
sem eu nunca romper
com a vida

viva
tudo em mim
que não consigo descrever

dorme ó minh'alma
dorme
dorme devagar
que eu acorde
sem os pés no chão tocar

sobre trilhos & descarrilos

sobre trilhos & descarrilos.


perverso anteparo no meu peito raia
dos perfis gélidos de rumos ingratos
curva declinante doravante espraia
meus tombos em saltos a montes inatos

se já me vi feliz cá meu ser ensaia
à imensidão do mar em flashes opacos
consagro meus passos nesta negra traia
sangrando-me frágil em surreais fatos

tal trem na curva que este querer vão taia
tal o destino campeiro e seus ornatos
até que de mim uma saudade saia

se já não regresso com novos relatos
na ascenção e queda desta febril tocaia
onde vejo-me ir em presságios abstratos

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Hálux

hálux.

"pés e mãos
3 falanges
menos no dedão
de duas "



não me cata a falange nascida
no dedo em riste dum cabeça
difiro dele numa cuspida
no chão gentil
na armadura espessa
ou nas luvas da desfaçatez

core agora
se tu não vês
no púlpito da estupidez
dois pés lelés
coleando na embriaguez
a rés de seu ãngulo visual
o primórdio de meu não
ao invés
dum cordeiro fixado
em gentes tão iguais
globais
dizendo sim a insensatez
na manobra das palavras
enfáticas
que se irmanam
em congregações de vícios
sob os auspícios
do orador ao microfone

ó morfética ladainha
minha amásia
quer ver a banda tocar
a banda da bunda
de um cu fedorento
de músicos descalços
(fotocópias seriais)
anunciando
cadeira elétrica ao profeta
continuador do velho testamento
com poemas a serem editados
daqui a mil anos...


ó morfética mulher submissa
vais a missa hoje
ainda com seu traje
neo-woodstock
me dá um toque
me deixa um trocado
sou um ex-combatente
perdi os dentes
comendo os fiapos de carne dos ossos
de nossa sociedade alternativa
lembra?

ah, no caminho fume um baseado
basei-se nas frustrações
dos nossos tempos ditatoriais
ademais
pode levar meus sapatos
minhas pulseiras de cobre
e madrepérolas
mostre-as ao capitalismo
de todos os nichos
o quão éramos livres

que se foda o mundo!
tenho só 4 dedos em cada pé
perdi os dedões em apostas
tipo roleta russa
em saraus de loucura
onde os diferentes
ficavam carecas
roiam as unhas
com um "ch"
(comunidade hálux)
um V nos dedos
do paz e amor impossível

vá morfética!
volte morfética!
na nossa ética
só nos resta se foder
sem foder os outros
os caretas
que só têm liberdade
com grana no bolso

vamos fugir
morrer abraçados
a um violão de antigas canções
cafonas
a envelhecerem conosco.

sábado, 7 de agosto de 2010

fingi e finjo, e daí?

fingi e finjo, e daí?

texto no luso com BBonfim
copiar, ok.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

trupicos

trupicos.


tô mais inseguro
que barco sem poita

tomei um laxante
não acho a moita

rabugento
não sei se açoito a vida
ou se a vida me açoita

no espírito
que me vem de manhã
e comigo pernoita

eta jabaculê do balacobaco!

ai-ai-ai
quem trupica também cai

pra mudar de opinião
sem que ela seja afoita

vou correr atrás do vento
meio uó do borogodó
qu'essa labuta só me coita

.......................................................................

glossário:

jabaculê: coisa feita de improviso, gambiarra.

(do) balacobaco: excelente, ótimo, fantástico
(coisa ou pessoa).
borogodó: determinada coisa que se refere a
uma pessoa no sentido de ser horrível, tosca,
brega, o pior do pior, etc.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ENGRAÇADINHA

ENGRAÇADINHA


vi quando ela passou
no lombo do burro
agarrada no seu pai
da beira da estradinha

levou meu olhar
pra eu ver nascer
minha eterna rainha
saí serelepe
nas asas
dos meus pés de moleque
pus minha roupa de missa
minha botininha

crescemos e cresceu
reguei o meu algo novo
como a semente da plantinha

eu viajava sem rumo
no voar duma andorinha

vi que crescer era triste

quando a moça
arrumou um par
passou por mim
toda engraçadinha
foi morar de vestido branco
noutra cidadezinha

seu pai então me adotou
como um filho que não tinha
sem saber
que foi de mim roubada
a pureza que eu sentia
desde os tempos da escolinha

guardo minha esperança
mirando do alto da colina
acima da mina
onde a gente não sabia
de menino e menina

pra sempre esperar
ela um dia voltar
na beira desta estradinha