quarta-feira, 24 de novembro de 2010

a porra da poesia desnecessária que hoje me saiu.

a porra da poesia desnecessária que hoje me saiu.
e daí?


chora mundo
chora viola
me inspiro em mim mesmo
em 1000 poemas que joguei fora

chora cara vadia
'vagalbunda'
tô só o pó
meus dentes amolecem amarelecidos
e nem me dei conta que definho
como os poemas que tento escrever
direto na tela de bordas sépias
nicotinadas

não anseio mais nada
porra nenhuma
já dei o melhor de mim
preciso me ironizar
não cuido de meu corpo como deveria
tô que nem o vira-lata
que quando balança o rabo
parece que ri com as saliências da costela

chora mundo
chora viola
chora mundo que esfola
meu intelecto
dentro do prospecto
que faço de ti
interminável...

perdi todos meus amigos
perdi toda minha família
perdi toda inspiração
nem me recordo da letra duma canção
dum taiguara da vida
nem do vinícius
ô suplício!
meu corpo esquenta
sinto que perco os hormônios
os neurônios
e esqueço-me das palavras certas deste poema
que se perdem no ar como a fumaça do
meu companheiro inseparável
ô vício!

bem
nesta altura do campeonato
dou-me o direito de escrever sobre o que eu quiser
mesmo sem me lembrar do que sentei aqui pra escrever
...
ah
que me inspiro em mim mesmo
pra mais 1000 poemas descartáveis
desnecessários
fazer o quê?
eu nasci assim no meio da merda
tento em braçadas nadar pra fora
como um sísifo urbano

um cagada a mais
uma a menos
qual a diferença?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

o meu querido jambeiro.

textos de minha mocidade
(1978)



o meu querido jambeiro.


quando eu era garoto
lá no orfanato que eu vivia
plantei, no quintal, uma mudinha
atrás de minha janela
pra um dia eu brincar nas suas galhas
sem me importar com as migalhas
e os rumos que a vida sela

eu regava
ela crescia
ela era meu amor
minha mocinha
um dia ela me daria seus frutos
numa espera menina
tão feliz a cegar-me a dor

então
veio a triste despedida

quis trazê-la comigo
mas os adultos disseram-me
que ela perderia a vida
e riram e riram
já que só viam à flor d'água
alheios à minha vontade imersa
quando lhe disse adeus
em nossa última conversa

fui adotado
num instante mudou-se minha sina
...
hoje sou homem maduro
dias atrás fui visitar o orfanato
saudoso em revê-la
me vi correr numa estrada colorida
a meu primeiro amor da vida
ela tão florida
rebrilhou na minha retina
parecia uma estrela
raios de sol no telhado
numa lembrança
que a 7 chaves trago segredista

vi que ela nunca precisou de mim
ali tão órfã
saudável e sozinha

chorei por lembrar
de minha vã aflição
em noites que eu não dormia
e tudo que ela frutificara
só vivera em mim naqueles dias

olhando da janela
nunca mais tão bela
cultivei a pureza que eu via
desde então sem mais amar
se era amor o que eu sentia

de lá pra cá
sobrou-me um espaço branco
o relento duma alma fria
entre tantas irmãs
onde repousa só
só uma árvore vazia

ENSAIO SOBRE A MENTIRA

ENSAIO SOBRE A MENTIRA











perco-me de mim e minto
balela!
minto perdendo-me de mim
mentira!
eu não sou eu
nem quero ser
nem estar
dividido por 2
verdade!
minto só
só minto
agora
pra não ter que mentir
e novamente me dividir
na mentira que virá depois

........................................................

bola na trave
quase foi gol
será a mentira
uma quase verdade
ou é a verdade
da mentira que se criou?

........................................................ ..
sou eu quem mente?
mas que mente a minha!
a mentira é um a bola amassada
rola descompassada
é o apupo dum show
não atinge o objetivo
é a antítese do rock'n'roll

é o carro que perde a roda

na viagem que me vou...

essas coisas...


.........................................................






de mentira também se vive

no resgate do limbo

armadilha que se criou

por isso finjo fingindo

na fuga meu carimbo

de palavras mentirosas

que se apagam

...

3 em resumo

que refuto generosas:



CONFIDENCIAL

URGENTE

VERDADEIRO



...............................................................





se até da minha verdade desconfio

é porque vivo por um fio

pois pra sobreviver

meu incontido desejo

parece animal no cio



................................................................






esse mundo é mesmo duo

concluo


mentira/verdade


duas que me dividem


mas a mentira que faz bem

me sustém

no vaivém do trapézio



a verdade que procuro

tá lá embaixo

no rosto dos espectadores


uns torcem pra eu cair

outros, não




penso que adoramos o inusitado

desejamos o nosso bem

em detrimento de outrem


que os outros fiquem com os males

se enganem e enganem


mas

da mentira deles

tô correndo a mais de cem


porque a minha é a verdadeira



........................................................................




a mentira tem perna curta

a verdade é coxa

e vice-versa

será...?

não, não...




(perna pra que te quero pra não pensar a respeito!

minha verdade é supersônica: passa rapidamente

num mundo falso...)










Água em pedra dura, tanto bate até que fura.

Ele me falou que não tinha mais sobre o que escrever.
Depois, me escreveu que já não queria mais escrever
sobre o que me falou, mesmo se se tornasse repetitivo.

Eis suas palavras na terceira pessoa, mas
que na verdade falam dele mesmo:

"Era uma vez um escritor
que escondeu as palavras dentro de si.
Quando foi procurá-las, não as achou.
Foi como se desenterrasse cadáveres
pra conversar com eles. De tanto monologar
sem uma ideia concreta, recorreu a seus antigos
textos e observou que já havia escrito
sobre o tema várias vezes.
Chegou a conclusão que vivia numa estação
neutra dentro de qualquer estação. E que
um pensamento é o trem que parte,
que faz seu trajeto sem hora de retornar."

A partir daí começou a construir e desconstruir
imagens paralelas à real, e me inventou,
chamou-me de 'tu' pra dizer
'que não tinha mais sobre o que escrever'.
Mas, se distante, num lugar qualquer,
se em seu dilema não surgisse um novo tema -,
me escreveria simplesmente pelo hábito
repetitivo de não ter sobre o que escrever.

Ele não me deu um nome. Tudo bem!
Os escritores se externam com
pronomes pessoais  menos o "eu" mesmo! E eu
apenas gravito em seu espaço-tempo como um

rascunho dele mesmo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ELEGIA A UM POETA

ora ora
se não vês o mundo
por que fazes versos

ora
somente o vistes
nos tempos de outrora
e hoje
fazes tuas projeções

indaga-o
tece-lhes canções

ora ora
escondes os quadros
nas entranhas
e nem sabes mais da lida
das artimanhas

por que
nobre morimbundo
relatas a transparência
das emoções
captas da vida seus torrões
de açúcar adoças nações
do fundo ao cume
em versos mudos
num diário invisível
de idílicas previsões

trancado em si mesmo
alegre e triste
na batalha de empates
que apenas se resiste
em xeque-mates
de mil dedos em riste

ora ora
poeta ébano da escuridão
você e vosmecê
hoje vi o crepúsculo da manhã
o temporal que veio do sul
o arco da aliança em degradê
milhares de guarda-chuvas
num balé nas calçadas
pássaros às lufadas
num incontido afã
de não saber de nada
nem por quê


e tu?
o que vistes
senão o sumo dos verbos
viver e morrer
em bocas várias
proseando
segurando as alças de tua esquife
tuas passagens hilárias

eu?
vi o teto da capela sistina numa foto
o inferno esperando-me de braços abertos
vi as luminárias do firmamento
meu destino num navio sem rota
vi o tempo no espelho


ora ora
não morra agora
veja
todos cegarem-se a ti
pela última vez

o que vês
no negror de teu ser
um clarão abissal
?
lembranças do que eras
?
creia
as feras estão soltas
os olhares magoam
almas cultas e indoutas
de dentro pra fora

ah
ao futuro dou de espora
no cavalo xucro que me leva
sabedor que o que sentes
de fora pra dentro
são teus poemas
que vêm como luz
que saem cegos
insentidos
se se vão embora

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

eu queria falar a língua dos poetas.

eu queria falar a língua dos poetas
ir ao céu e ao inferno
roubar-lhes os pensares
e todos os seus versos
balançar na corda-bamba
viajar nos seus mares

eu queria falar a língua dos poetas
do poeta universal
que vive e morre num poema
à beira do sistema
no submundo que ele cria
e recria pra manter-se vivo

eu queria saber rimar
a língua dos poetas
e na solidão dos dias
desejar o calor humano
de quem sofre
ao sentir tantas almas frias


eu queria
dos poetas
a língua
pra falar por mim
o quanto hei de versejar
em qualquer idioma
sem dizer que sou
o poeta da vida
o poeta que num canto
canta
o belo feio
o feio belo
da essência que verte em mim

porque
eu queria falar a língua dos poetas
seus clamores
amores
suas metas
da areia ao cimento
tocar os corações suas setas

sem que eu possa roubar
o que neles foi lapidado
pelo artista invisível
de mãos que regem o tempo

eu queria falar a língua dos poetas
e neste vero átimo
ter um pensar alado
que me ensinasse
segui-los mundo afora
toda hora
desde agora
eu queria

terça-feira, 16 de novembro de 2010

OS GATOS.



OS GATOS..

Ela tem dois gatos bem-amados,
um rato não menos
e um namorado gatuno,
ladrão do seu amor...

a Teca sorria
o Tico grunhia
o Taco rosnava
o Teco piava: piu, piu
de dor e calafrio."
o Tico e o Taco
disputavam o prato.
chegou a Teca
dona do rato Teco.
o Tico arranhou a Teca
o Taco o rabo do Tico
que puxava o rabo do Teco
de dentro da boca do Taco
seguro pela destra da Teca
que queria salvar o Teco
empunhando na canhota um toco.
que rolo!
continue, caro leitor,
até o grand finale...

o Taco ficou com o rabo do Teco
enquanto o Tico puxava-o pelo rabo.
o Teco, coitado, ficou totó.
aí chegou o namorado da Teca
o Tuco
que vendo a cena a enrabou
(uma comida de loló, direi.
ainda bem que acabou bem.
e se o Tuco pegasse o toco
pra cotucar o rabo da Teca?)
por tamanha distração
não sem ver o Tico e o Taco
numa gataiada
disputando o rabo do Teco
morto na palma da mão da chorona Teca
melecado de bába.
o Tuco aproveitou a fragilidade momentânea da Teca
e lhe fez uma declaração de amor, assim:
-- Um rabo sem dono não vale nada.
Querida, quero-te todinha de corpo, rabo(?) e alma.
Amanhã te dou um ratinho mecânico que canta, sem parar,
lógico, com minha voz:
'i love you, i love you...' até roer teus sonhos. Ah, te amo.
Saibas que sou teu único predador apesar de nossas
diferenças. Mas, porra! Teca! -- gato e rato na mesma casa, pô!
é meio surreal, né? Quanta desnatureza! Depois desse trauma
só me resta enterrar o bichinho! Ei, minha linda, você
ficou felizinha com minha frase de duplo sentido, hem!

MD! MD!

MD! MD!


maneca deodora bateu o sino
pros minino se ajuntá
os malaco lá de baixo
o sal da janta vêm roubá

bem na hora
de fazê um h
pinta essa
tem boi na linha
os gambés fugiram c' a remessa
ficamos no vácuo do blablablá

maneca deodora
junta a tropa
mocosa a farinha
pras pt dá munição
azeitona vai vuá

vai tê fumaça de ferro quente
vai morrê mais gente
do que na última invasão

tá ligado?

maneca dá a bença
que vamo pras cabeça
vamo fazer o paredão
a gente tá muito louco
vamo fudê a outra facção

olha os maluco subindo
é guerra mano
nóis é a lei
os cusão vão virar pó

olha o helicóptero da pm!
ajeita o pau de fogo!

MD! MD!
dá o toque
que ninguém folga no pedaço!

caraio!
bem na hora do almoço, mano!

o recado falado.

o recado falado.


desavisado chegou
relatou seu caso

na casa do agiota
que não o recebeu

já que era visado
caloteiro de procedência

sem clemência
da vingança apologista
o agiota um aviso ditou
a antipática recepcionista:

"se não avisar quando vem
o desavisado sou eu
não empresto
pra quem vive de golpe
e na hora de pagar
dá certidão que morreu"

dona matilde
passe o recado a meu ex-comparsa
bundão bocó de mola
pô e pô
tô pedindo fiado e querendo troco

se faz de atarefada e disfarça
meta na mesa um soco
despacha o canalha
mantenha a farsa
manda ele pro cu do mundo
gartar sola
aqui não é recanto de quem esmola
de vagal que a bunda não esfola
pega a plaquinha de
'fechado pra balanço'
diz que vou pagar promessa em pirapora
aparecida do norte
que tô falido
procurando um talismã
pra mudar minha sorte
-- só isso, seu metralha? - indagou a senhorita.
-- não. diz também se ele não tem um ticket
pra me emprestar, pois estou passando fome --
conclui o patrão.

rosa amarela.

rosa amarela.


ainda aguardas
o orvalho das madrugadas febris
e se agitas
em espiadelas janelas ao céu
a buscar-me sabe-se lá onde
em frases a si mesma gentis

guardastes contigo
o olhar profundo
este que te envio doravante
daqui de ti distante
que ao tentar achá-la
um dia perdi-me em mim
pra começar a viver

induvidoso quero apagar
os vultos em minha entranha
duma simbólica rosa amarela
se daqui desta janela me assanha
a imprevisível fuga silenciosa
do incontido desejo
que longe vai te ofertar
todas que te prometi

pra simplesmente rever
no teu roseado semblante
mais que um inocente ato
mais que um impulso amante
mais que a rosa em si


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

da tristeza & da alegria



da tristeza & da alegria.


a triteza pode durar
um dia
um mês
um ano
e anos

pode ser-se refém dela

mas a sutileza da alegria
num instante liberta



a alegria pode ser pequenina
uma pitada de sal
na tristeza que é o mar

a alegria pode ser a pitada
capaz de o mar adoçar

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

regressos & partidas

regressos & partidas.
quão belos são os navios a aportarem
sem que eu saiba de onde vêm
quão belos são meus cantares
de nauta errante ao além
no vaivém de meus sonhares
navegantes à procura de alguém
que me traga suas alegrias e penares
sem despedidas que me façam ninguém
a espera do regresso de vis olhares
a tantos mares que levaram meu bem

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O SEGREDO DAS CHUVAS

O SEGREDO DAS CHUVAS
esboço natural
deixado na superfície da pedra
em contornos de respingos
que o tempo descolore
desde o entorno no chão
águas que invadem as praias
pintam com a tinta das chuvas
o olho que vê
retém a tela disforme
copia
cópia de ventania
acrescenta-lhe alegoria
à cegueira
de quem não sente
que o presente
se vai manso
na tempestade de um dia
porque
se se arrancar a pedra
eis que se tem
a obra fugidia
e em seu lugar
renasce do oco
pela inspiração
a mutável arte
de quem a vê e vivencia

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

a morimbunda.

a morimbunda.

num élan belicoso
só com as hastes desfolhadas
cheguei à porta da morimbunda
descendente dos tupinambás
que me aguardava na álgida madrugada

o vento e o rocio:
um duo perfeito
a gelar até os ossos
de um cão pelado

bati:
toc-toc!
e uma voz máscula e grave...:
- quem é?

abriu a porta desalinhado
com a canhota segurava o pinto amarelo
que piava um piu-piu rouco

ele nu com o pênis semi-duro,
como se acabara de cometer o coito,
não deu lhufas pra mim e começou a mijar
na entrada da porta como se demarcasse seu
território.

-- preciso falar com a Vixinischi - disse-lhe.
-- ela está dormindo e febril - respondeu.
-- olha, trouxe-lhe o santo remédio pra doença dela.

ele pôs o pinto caipira na minha mão, um presente que
fora buscar, que a Vixi me prometera assim que
sua galinha chocasse.


-- toma aqui e tchau.

deixei a erva nas mãos do meu sócio. saí com o pinto
na mão, enquanto ele me fitava da porta entreaberta,
ainda escondendo o pênis melado com olhar de
desconfiança... e fui andando meio aperriado.
a poucos metros escutei os gritos da morimbunda
e os sons de arremessos de utensílios domésticos.

a coisa mais chata que existe e ir visitar a amante
e encontrar a cama ocupada por um mulato
aventureiro que nem sequer tem o menor sentimento
por alguém que você acha que ama, do tipo
que chega, come, pega sua trouxa, faz umas
promessas e some.

eu?
pelo menos, antes de uma ejaculação, penso no ser
humano. vou ficar na espreita. voltarei quando
o pintinho se tornar frango. isso se minha predileta
estiver livre da tuberculose e tiver mandado o crápula
cantar em outra freguesia. se eu fosse o 'hulk' dava
um cacete nele. esse mundo é mesmo animal.