segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Água em pedra dura, tanto bate até que fura.

Ele me falou que não tinha mais sobre o que escrever.
Depois, me escreveu que já não queria mais escrever
sobre o que me falou, mesmo se se tornasse repetitivo.

Eis suas palavras na terceira pessoa, mas
que na verdade falam dele mesmo:

"Era uma vez um escritor
que escondeu as palavras dentro de si.
Quando foi procurá-las, não as achou.
Foi como se desenterrasse cadáveres
pra conversar com eles. De tanto monologar
sem uma ideia concreta, recorreu a seus antigos
textos e observou que já havia escrito
sobre o tema várias vezes.
Chegou a conclusão que vivia numa estação
neutra dentro de qualquer estação. E que
um pensamento é o trem que parte,
que faz seu trajeto sem hora de retornar."

A partir daí começou a construir e desconstruir
imagens paralelas à real, e me inventou,
chamou-me de 'tu' pra dizer
'que não tinha mais sobre o que escrever'.
Mas, se distante, num lugar qualquer,
se em seu dilema não surgisse um novo tema -,
me escreveria simplesmente pelo hábito
repetitivo de não ter sobre o que escrever.

Ele não me deu um nome. Tudo bem!
Os escritores se externam com
pronomes pessoais  menos o "eu" mesmo! E eu
apenas gravito em seu espaço-tempo como um

rascunho dele mesmo.

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