sexta-feira, 30 de julho de 2010

o homem que colava




o homem que colava.

colava fotos num álbum imaginário
entre a cruz e o calvário

um flash
um vácuo repentino!

lembrou -se do menino
que colava figurinhas

uma foto
sorriu de si mesmo
em charges insólitas

olhou pra frente
tatuou um tudo diferente
na cabeça calva

relembrou
que colava fotos num álbum imaginário
de tudo que viveu

pegou suas malas
seguiu a deus dará.

caça & caçador

caça & caçador.

procura em todos os rostos
encontrar a si mesmo.

encontra em si mesmo
à procura.

pra quem seu olhar aponta
se o rosto que se transfigura
é o seu

que se vai
entre tantos
ferido
num êxtase sem cura?

--

e se cansa
frente ao espelho
refletindo
só ele que se atura?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

OS DIFERENTES ESTILOS

OS DIFERENTES ESTILOS

UM USA O CONCRETO PRA FALAR DO ABSTRATO.
O OUTRO, O ABSTRATO PRA FALAR DO CONCRETO.

pintassilgo

pintassilgo.


canta pintassilgo
mais feliz que eu
canta no meu dedo em riste
canta bonitinho
canta que te dou alpiste

canta canta pintassilgo
voz que a natureza te deu
canta dobra bonitinho
não seja infeliz como eu


canta pintassilgo
na gaiola que cresceu
eu canto do lado de fora
na prisão que a vida me deu


se seu canto é beleza
já o meu é a tristeza
de quem ser livre se esqueceu

canta pintassilgo
canta canta bonitinho

canta e voa
livre miudinho
no alto da paineira
faça seu ninho

e de lá
canta canta bonitinho
a cada manhã
pra eu ficar ouvindo.

3 flores.

3 flores.


namorei 3 flores
a rosa
a violeta
e a margarida
cálidas
ao longo de minha vida

por isso as rego no jardim
pra sentir seu aromas corpóreos

que se perderam no tempo

pálidas se esqueceram
de quão belas são
e foram pra mim

perecível

perecível.

minha poesia nascia do belo
do belo que eu sentia

que se enfeiou
no desencanto em mim

e os versos que já não sei criar
vêm me adiantar

enfim

afastar-me

sem que eu possa alcançar
o belo da poesia
que em mim nascia

o fruto

o fruto.

era dia de sol
ele se foi com jura pro norte
ela pro sul

era dia sem sol
voltou com a chuva
ela com a estiagem

era dia de lua
ele a amou
ela um fruto gerou

era dia sem lua
ele foi pro sul
ela pro norte


era dia de sol
era dia sem sol
era dia de lua
era dia sem lua

era o tempo
era o esquecimento

no dia e na noite
de norte a sul

de um fruto só
no chão
da árvore da vida

terça-feira, 27 de julho de 2010

de poeta pra poeta

de poeta pra poeta


poeta é menino de rua
à procura dum lar
quando encontra um
faz uma refeição
diz que tem que regressar

poeta é ser assexuado
que brinca de amor e sexo
se não pode exercitar
seu imaginário
tão-só só seu fadário

poeta é colibri
de flor em flor
sempre alegre
amical lá e aqui
aparece num poema
pra voar sua dor

poeta é a porta lacrada
que prende o menino
que de amor e sexo
não sabe brincar

quando vê o colibri
a flor plástica bicar
na rua
à procura dum lar

como uma resposta vã
mas que tem que
aqui e ali
procurar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

um sábio neozelandês

um sábio neozelandês

tinha um sábio neozelandês
repórter nas horas vagas
numa crise existencial
procurado
logo depois que passou pelo paquistão
e levou um tiro na bunda

meditando sobre a dor profunda
sobre a bala
sobre a dor na bunda
que abala
traz à baila uma palavra iracunda
berrou:
caralho! porra de caralho!

mas concluiu
que toda bala tem um alvo reto
nem que seja incerto

e também na bala
que atinge um avião
ou
um pássaro que acabou de fugir do zoo
(no ar)
(questão improvável mas possível, que
só passa na cabeça de um sábio)


ficou fodido com o sábio chinês
inventor da pólvora
que queria ficar só no mundo
que ensinou a pescar
mas nunca pescou pra ninguém

pensou no grão de mostarda
numa pequena descoberta
que abalara o mundo

e com tanta dor na bunda
achou que devia existir
uma bala superpoderosa
que fosse capaz de implodir o pentágono
tirar israel do mapa!

mas como era humanista
perdoou o terrorista
que por engano
fez da bunda dele seu alvo
por inimaginar
o que estaria fazendo
um sábio neozelandês naquelas bandas

nunca mais quis frequentar
as frentes de batalha
abalado que ficou
jurou
largar a profissão de repórter
sair da embriaguês
voltar à lucidez

sentar numa pedra diuturnamente
meditar

pra quem sabe uma bala perdida
não lhe atingisse a cabeça
ou um órgão vital

se desacreditava
nas manchetes que via no jornal

de tanto pensar
deu um tiro na cabeça
pra deletar a realidade

quarta-feira, 21 de julho de 2010

POEMA À ANAYRA

POEMA À ANAYRA

de maluco pra maluca
paira no ar uma sintonia
droga? - não!
pura telepatia
de mentes
dementes
há mais gente neles
que toda vã filosofia

não há rapapés
nem papo furado
entre os que
de loucos não têm nada
se estimam à vida
pra no éter
deixarem seu eu gravado

anayra
palavra de difícil rima
mas que gira
se do brasil
aí em portugal
meu olhar mira

pra dizer-te obrigado
de maluco pra maluca
por suas palavras
sinto-me recompensado.

CRÔNICA HIPNÓTICA




CRÔNICA HIPNÓTICA


relaxe
não há tempo nem espaço

olho no OLHO
OlhOnOlhOOO
nOlhOOOlhoOOO
OLHOOOnoOlhO

1, 2, 3
progressão

* pausa para um pitaco intrometido:

(se for homem, pense estar numas praia deserta
com seis lindas virgens loiras, suecas e dinamarquesas
disputando quem será aprimeira).
(se for mulher, na mesma praia com 6 homens virgens,
de perfil grego e que joguem na seleção da itália).

OLHO no olho
1,2, 3, 4, 5, 6, 7
olhe o pêndulo do relógio...

** (adormeçam e gozem a vontade.
fixem-se no pensamento acima
e esqueçam as besteiras do hipnotizador
que não falará em dor, mesmo com a desvirginização
em curso).

relaxe
não há tempo nem espaço
nenhum embaraço

OlhO nO OlhO nOlhO
NOlhO nOlhOnOlhO
OoolhOOOoonoOlhO
OOoonOOlhOolhOno

1, 2, 3
regressão

*** (se for mulher pense que você ganhou a disputa
daquele deus grego com aquela gostosona sueca e ainda
por cima deu uma surra nela, que você cravou as unhas
naquele rosto de boneca e arrancou aqueles cabelos
dourados que te faziam gastar uma nota com
tinta de cabelo).

(se for homem pense naquela loira tingida que arruinou
sua vida e até hoje você ainda paga pensão alimentícia
dum filho ilegítimo, porque na época você estava tão
cego de amor pela deusa pseudosueca que nem se
preocupou em fazer um exame de DNA).

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
olhe o pêndulo do relógio
1,2, 3
(já sei, já sei... olho no olho
e um monte de papagaiada...)

Aí o(a) consultante esbraveja:

"Porra! acordei bem agora!
E ainda vou ter que amargar esta lembrança.
Vamos voltar a progressão senão eu não
pago a consulta, seu charlatão filho da puta!

POEMA EM TRANSE

POEMA EM TRANSE

onde estou?
quem sou eu?

quem são vocês
seres esvoaçantes
vultos da luz do dia ?

porque treme
feito gelatina
esta luz que não alumia?

todo rosto é sem cara
toda cara clara
parece nublada

parem!
não me açoitem!
espantem estas borboletas
estas mariposas piscantes
estes olhares xeretas!

olhem
o trem sobre o mar
pra onde ele vai?

quero apagar
esta ótica irreal
não posso

sou uma memória sem corpo
zuim! zuimggg!
um avião levantou voo
tirem as patas de mim!

não quero acordar
mas preciso
tocar a mancha transparente
tatear as coisas sólidas

cadê meu caderno?
... o eremita quer sair da toca
me toca
há um mundo bem melhor
inescrito
sem destino sem rota

gravitando
para além dessa visão enganosa

não me roubem
estes minutos sombrios
se deles
quero fazer um a prosa multicor
que ninguém entenderá

não me acordem!
quero gozar
entrar de cabeça
xô calmante!
xô sonífero!
quero vagar no universo
sem sair do lugar

onde estou?
quem sou eu?
quem são vocês?
que dimensão é esta?
não sinto meu corpo
mas penso
no lenço ao vento
que não sabe onde vai pousar

penso que aqui não sou eu
mas sou sem estar

outro alucinógico quiçá
... meu lápis! meu lápis!
não digo nada com nada
meu lápis-lapso
me deem já!
pra não fugir esta loucura.