quarta-feira, 24 de novembro de 2010

a porra da poesia desnecessária que hoje me saiu.

a porra da poesia desnecessária que hoje me saiu.
e daí?


chora mundo
chora viola
me inspiro em mim mesmo
em 1000 poemas que joguei fora

chora cara vadia
'vagalbunda'
tô só o pó
meus dentes amolecem amarelecidos
e nem me dei conta que definho
como os poemas que tento escrever
direto na tela de bordas sépias
nicotinadas

não anseio mais nada
porra nenhuma
já dei o melhor de mim
preciso me ironizar
não cuido de meu corpo como deveria
tô que nem o vira-lata
que quando balança o rabo
parece que ri com as saliências da costela

chora mundo
chora viola
chora mundo que esfola
meu intelecto
dentro do prospecto
que faço de ti
interminável...

perdi todos meus amigos
perdi toda minha família
perdi toda inspiração
nem me recordo da letra duma canção
dum taiguara da vida
nem do vinícius
ô suplício!
meu corpo esquenta
sinto que perco os hormônios
os neurônios
e esqueço-me das palavras certas deste poema
que se perdem no ar como a fumaça do
meu companheiro inseparável
ô vício!

bem
nesta altura do campeonato
dou-me o direito de escrever sobre o que eu quiser
mesmo sem me lembrar do que sentei aqui pra escrever
...
ah
que me inspiro em mim mesmo
pra mais 1000 poemas descartáveis
desnecessários
fazer o quê?
eu nasci assim no meio da merda
tento em braçadas nadar pra fora
como um sísifo urbano

um cagada a mais
uma a menos
qual a diferença?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

o meu querido jambeiro.

textos de minha mocidade
(1978)



o meu querido jambeiro.


quando eu era garoto
lá no orfanato que eu vivia
plantei, no quintal, uma mudinha
atrás de minha janela
pra um dia eu brincar nas suas galhas
sem me importar com as migalhas
e os rumos que a vida sela

eu regava
ela crescia
ela era meu amor
minha mocinha
um dia ela me daria seus frutos
numa espera menina
tão feliz a cegar-me a dor

então
veio a triste despedida

quis trazê-la comigo
mas os adultos disseram-me
que ela perderia a vida
e riram e riram
já que só viam à flor d'água
alheios à minha vontade imersa
quando lhe disse adeus
em nossa última conversa

fui adotado
num instante mudou-se minha sina
...
hoje sou homem maduro
dias atrás fui visitar o orfanato
saudoso em revê-la
me vi correr numa estrada colorida
a meu primeiro amor da vida
ela tão florida
rebrilhou na minha retina
parecia uma estrela
raios de sol no telhado
numa lembrança
que a 7 chaves trago segredista

vi que ela nunca precisou de mim
ali tão órfã
saudável e sozinha

chorei por lembrar
de minha vã aflição
em noites que eu não dormia
e tudo que ela frutificara
só vivera em mim naqueles dias

olhando da janela
nunca mais tão bela
cultivei a pureza que eu via
desde então sem mais amar
se era amor o que eu sentia

de lá pra cá
sobrou-me um espaço branco
o relento duma alma fria
entre tantas irmãs
onde repousa só
só uma árvore vazia

ENSAIO SOBRE A MENTIRA

ENSAIO SOBRE A MENTIRA











perco-me de mim e minto
balela!
minto perdendo-me de mim
mentira!
eu não sou eu
nem quero ser
nem estar
dividido por 2
verdade!
minto só
só minto
agora
pra não ter que mentir
e novamente me dividir
na mentira que virá depois

........................................................

bola na trave
quase foi gol
será a mentira
uma quase verdade
ou é a verdade
da mentira que se criou?

........................................................ ..
sou eu quem mente?
mas que mente a minha!
a mentira é um a bola amassada
rola descompassada
é o apupo dum show
não atinge o objetivo
é a antítese do rock'n'roll

é o carro que perde a roda

na viagem que me vou...

essas coisas...


.........................................................






de mentira também se vive

no resgate do limbo

armadilha que se criou

por isso finjo fingindo

na fuga meu carimbo

de palavras mentirosas

que se apagam

...

3 em resumo

que refuto generosas:



CONFIDENCIAL

URGENTE

VERDADEIRO



...............................................................





se até da minha verdade desconfio

é porque vivo por um fio

pois pra sobreviver

meu incontido desejo

parece animal no cio



................................................................






esse mundo é mesmo duo

concluo


mentira/verdade


duas que me dividem


mas a mentira que faz bem

me sustém

no vaivém do trapézio



a verdade que procuro

tá lá embaixo

no rosto dos espectadores


uns torcem pra eu cair

outros, não




penso que adoramos o inusitado

desejamos o nosso bem

em detrimento de outrem


que os outros fiquem com os males

se enganem e enganem


mas

da mentira deles

tô correndo a mais de cem


porque a minha é a verdadeira



........................................................................




a mentira tem perna curta

a verdade é coxa

e vice-versa

será...?

não, não...




(perna pra que te quero pra não pensar a respeito!

minha verdade é supersônica: passa rapidamente

num mundo falso...)










Água em pedra dura, tanto bate até que fura.

Ele me falou que não tinha mais sobre o que escrever.
Depois, me escreveu que já não queria mais escrever
sobre o que me falou, mesmo se se tornasse repetitivo.

Eis suas palavras na terceira pessoa, mas
que na verdade falam dele mesmo:

"Era uma vez um escritor
que escondeu as palavras dentro de si.
Quando foi procurá-las, não as achou.
Foi como se desenterrasse cadáveres
pra conversar com eles. De tanto monologar
sem uma ideia concreta, recorreu a seus antigos
textos e observou que já havia escrito
sobre o tema várias vezes.
Chegou a conclusão que vivia numa estação
neutra dentro de qualquer estação. E que
um pensamento é o trem que parte,
que faz seu trajeto sem hora de retornar."

A partir daí começou a construir e desconstruir
imagens paralelas à real, e me inventou,
chamou-me de 'tu' pra dizer
'que não tinha mais sobre o que escrever'.
Mas, se distante, num lugar qualquer,
se em seu dilema não surgisse um novo tema -,
me escreveria simplesmente pelo hábito
repetitivo de não ter sobre o que escrever.

Ele não me deu um nome. Tudo bem!
Os escritores se externam com
pronomes pessoais  menos o "eu" mesmo! E eu
apenas gravito em seu espaço-tempo como um

rascunho dele mesmo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ELEGIA A UM POETA

ora ora
se não vês o mundo
por que fazes versos

ora
somente o vistes
nos tempos de outrora
e hoje
fazes tuas projeções

indaga-o
tece-lhes canções

ora ora
escondes os quadros
nas entranhas
e nem sabes mais da lida
das artimanhas

por que
nobre morimbundo
relatas a transparência
das emoções
captas da vida seus torrões
de açúcar adoças nações
do fundo ao cume
em versos mudos
num diário invisível
de idílicas previsões

trancado em si mesmo
alegre e triste
na batalha de empates
que apenas se resiste
em xeque-mates
de mil dedos em riste

ora ora
poeta ébano da escuridão
você e vosmecê
hoje vi o crepúsculo da manhã
o temporal que veio do sul
o arco da aliança em degradê
milhares de guarda-chuvas
num balé nas calçadas
pássaros às lufadas
num incontido afã
de não saber de nada
nem por quê


e tu?
o que vistes
senão o sumo dos verbos
viver e morrer
em bocas várias
proseando
segurando as alças de tua esquife
tuas passagens hilárias

eu?
vi o teto da capela sistina numa foto
o inferno esperando-me de braços abertos
vi as luminárias do firmamento
meu destino num navio sem rota
vi o tempo no espelho


ora ora
não morra agora
veja
todos cegarem-se a ti
pela última vez

o que vês
no negror de teu ser
um clarão abissal
?
lembranças do que eras
?
creia
as feras estão soltas
os olhares magoam
almas cultas e indoutas
de dentro pra fora

ah
ao futuro dou de espora
no cavalo xucro que me leva
sabedor que o que sentes
de fora pra dentro
são teus poemas
que vêm como luz
que saem cegos
insentidos
se se vão embora

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

eu queria falar a língua dos poetas.

eu queria falar a língua dos poetas
ir ao céu e ao inferno
roubar-lhes os pensares
e todos os seus versos
balançar na corda-bamba
viajar nos seus mares

eu queria falar a língua dos poetas
do poeta universal
que vive e morre num poema
à beira do sistema
no submundo que ele cria
e recria pra manter-se vivo

eu queria saber rimar
a língua dos poetas
e na solidão dos dias
desejar o calor humano
de quem sofre
ao sentir tantas almas frias


eu queria
dos poetas
a língua
pra falar por mim
o quanto hei de versejar
em qualquer idioma
sem dizer que sou
o poeta da vida
o poeta que num canto
canta
o belo feio
o feio belo
da essência que verte em mim

porque
eu queria falar a língua dos poetas
seus clamores
amores
suas metas
da areia ao cimento
tocar os corações suas setas

sem que eu possa roubar
o que neles foi lapidado
pelo artista invisível
de mãos que regem o tempo

eu queria falar a língua dos poetas
e neste vero átimo
ter um pensar alado
que me ensinasse
segui-los mundo afora
toda hora
desde agora
eu queria

terça-feira, 16 de novembro de 2010

OS GATOS.



OS GATOS..

Ela tem dois gatos bem-amados,
um rato não menos
e um namorado gatuno,
ladrão do seu amor...

a Teca sorria
o Tico grunhia
o Taco rosnava
o Teco piava: piu, piu
de dor e calafrio."
o Tico e o Taco
disputavam o prato.
chegou a Teca
dona do rato Teco.
o Tico arranhou a Teca
o Taco o rabo do Tico
que puxava o rabo do Teco
de dentro da boca do Taco
seguro pela destra da Teca
que queria salvar o Teco
empunhando na canhota um toco.
que rolo!
continue, caro leitor,
até o grand finale...

o Taco ficou com o rabo do Teco
enquanto o Tico puxava-o pelo rabo.
o Teco, coitado, ficou totó.
aí chegou o namorado da Teca
o Tuco
que vendo a cena a enrabou
(uma comida de loló, direi.
ainda bem que acabou bem.
e se o Tuco pegasse o toco
pra cotucar o rabo da Teca?)
por tamanha distração
não sem ver o Tico e o Taco
numa gataiada
disputando o rabo do Teco
morto na palma da mão da chorona Teca
melecado de bába.
o Tuco aproveitou a fragilidade momentânea da Teca
e lhe fez uma declaração de amor, assim:
-- Um rabo sem dono não vale nada.
Querida, quero-te todinha de corpo, rabo(?) e alma.
Amanhã te dou um ratinho mecânico que canta, sem parar,
lógico, com minha voz:
'i love you, i love you...' até roer teus sonhos. Ah, te amo.
Saibas que sou teu único predador apesar de nossas
diferenças. Mas, porra! Teca! -- gato e rato na mesma casa, pô!
é meio surreal, né? Quanta desnatureza! Depois desse trauma
só me resta enterrar o bichinho! Ei, minha linda, você
ficou felizinha com minha frase de duplo sentido, hem!

MD! MD!

MD! MD!


maneca deodora bateu o sino
pros minino se ajuntá
os malaco lá de baixo
o sal da janta vêm roubá

bem na hora
de fazê um h
pinta essa
tem boi na linha
os gambés fugiram c' a remessa
ficamos no vácuo do blablablá

maneca deodora
junta a tropa
mocosa a farinha
pras pt dá munição
azeitona vai vuá

vai tê fumaça de ferro quente
vai morrê mais gente
do que na última invasão

tá ligado?

maneca dá a bença
que vamo pras cabeça
vamo fazer o paredão
a gente tá muito louco
vamo fudê a outra facção

olha os maluco subindo
é guerra mano
nóis é a lei
os cusão vão virar pó

olha o helicóptero da pm!
ajeita o pau de fogo!

MD! MD!
dá o toque
que ninguém folga no pedaço!

caraio!
bem na hora do almoço, mano!

o recado falado.

o recado falado.


desavisado chegou
relatou seu caso

na casa do agiota
que não o recebeu

já que era visado
caloteiro de procedência

sem clemência
da vingança apologista
o agiota um aviso ditou
a antipática recepcionista:

"se não avisar quando vem
o desavisado sou eu
não empresto
pra quem vive de golpe
e na hora de pagar
dá certidão que morreu"

dona matilde
passe o recado a meu ex-comparsa
bundão bocó de mola
pô e pô
tô pedindo fiado e querendo troco

se faz de atarefada e disfarça
meta na mesa um soco
despacha o canalha
mantenha a farsa
manda ele pro cu do mundo
gartar sola
aqui não é recanto de quem esmola
de vagal que a bunda não esfola
pega a plaquinha de
'fechado pra balanço'
diz que vou pagar promessa em pirapora
aparecida do norte
que tô falido
procurando um talismã
pra mudar minha sorte
-- só isso, seu metralha? - indagou a senhorita.
-- não. diz também se ele não tem um ticket
pra me emprestar, pois estou passando fome --
conclui o patrão.

rosa amarela.

rosa amarela.


ainda aguardas
o orvalho das madrugadas febris
e se agitas
em espiadelas janelas ao céu
a buscar-me sabe-se lá onde
em frases a si mesma gentis

guardastes contigo
o olhar profundo
este que te envio doravante
daqui de ti distante
que ao tentar achá-la
um dia perdi-me em mim
pra começar a viver

induvidoso quero apagar
os vultos em minha entranha
duma simbólica rosa amarela
se daqui desta janela me assanha
a imprevisível fuga silenciosa
do incontido desejo
que longe vai te ofertar
todas que te prometi

pra simplesmente rever
no teu roseado semblante
mais que um inocente ato
mais que um impulso amante
mais que a rosa em si


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

da tristeza & da alegria



da tristeza & da alegria.


a triteza pode durar
um dia
um mês
um ano
e anos

pode ser-se refém dela

mas a sutileza da alegria
num instante liberta



a alegria pode ser pequenina
uma pitada de sal
na tristeza que é o mar

a alegria pode ser a pitada
capaz de o mar adoçar

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

regressos & partidas

regressos & partidas.
quão belos são os navios a aportarem
sem que eu saiba de onde vêm
quão belos são meus cantares
de nauta errante ao além
no vaivém de meus sonhares
navegantes à procura de alguém
que me traga suas alegrias e penares
sem despedidas que me façam ninguém
a espera do regresso de vis olhares
a tantos mares que levaram meu bem

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O SEGREDO DAS CHUVAS

O SEGREDO DAS CHUVAS
esboço natural
deixado na superfície da pedra
em contornos de respingos
que o tempo descolore
desde o entorno no chão
águas que invadem as praias
pintam com a tinta das chuvas
o olho que vê
retém a tela disforme
copia
cópia de ventania
acrescenta-lhe alegoria
à cegueira
de quem não sente
que o presente
se vai manso
na tempestade de um dia
porque
se se arrancar a pedra
eis que se tem
a obra fugidia
e em seu lugar
renasce do oco
pela inspiração
a mutável arte
de quem a vê e vivencia

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

a morimbunda.

a morimbunda.

num élan belicoso
só com as hastes desfolhadas
cheguei à porta da morimbunda
descendente dos tupinambás
que me aguardava na álgida madrugada

o vento e o rocio:
um duo perfeito
a gelar até os ossos
de um cão pelado

bati:
toc-toc!
e uma voz máscula e grave...:
- quem é?

abriu a porta desalinhado
com a canhota segurava o pinto amarelo
que piava um piu-piu rouco

ele nu com o pênis semi-duro,
como se acabara de cometer o coito,
não deu lhufas pra mim e começou a mijar
na entrada da porta como se demarcasse seu
território.

-- preciso falar com a Vixinischi - disse-lhe.
-- ela está dormindo e febril - respondeu.
-- olha, trouxe-lhe o santo remédio pra doença dela.

ele pôs o pinto caipira na minha mão, um presente que
fora buscar, que a Vixi me prometera assim que
sua galinha chocasse.


-- toma aqui e tchau.

deixei a erva nas mãos do meu sócio. saí com o pinto
na mão, enquanto ele me fitava da porta entreaberta,
ainda escondendo o pênis melado com olhar de
desconfiança... e fui andando meio aperriado.
a poucos metros escutei os gritos da morimbunda
e os sons de arremessos de utensílios domésticos.

a coisa mais chata que existe e ir visitar a amante
e encontrar a cama ocupada por um mulato
aventureiro que nem sequer tem o menor sentimento
por alguém que você acha que ama, do tipo
que chega, come, pega sua trouxa, faz umas
promessas e some.

eu?
pelo menos, antes de uma ejaculação, penso no ser
humano. vou ficar na espreita. voltarei quando
o pintinho se tornar frango. isso se minha predileta
estiver livre da tuberculose e tiver mandado o crápula
cantar em outra freguesia. se eu fosse o 'hulk' dava
um cacete nele. esse mundo é mesmo animal.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Poetas são ciumentos

Poetas são ciumentos

O espírito que habita nos poetas tem ciúmes. Ele é
atemporal (será?), mas o ciúme tem prazo de validade.
Tem aquela vozinha falsa e silenciosa -- que só o verdadeiro
poeta escuta, longe de ser assombrosa -- cochichante em
seu ouvido: "Externe versos ou cale-se pra sempre".
Aí que está o xis da questão. O poeta pode até deixar de
escrever, mas nunca se calará pra sempre, porque a vozinha
que ele escuta, na verdade, são captadas por seus olhos
que não veem o espírito, mas está ciente de que um dublê
o persegue e diz -- por ele, só pra ele -- do sentir intocável.

Poetas são ciumentos. Querem que tudo gire em torno deles,
sem hipocrisia. Poeta é tão ciumento que, quando se olha no
espelho, diz: "Sai daí, você está ocupando meu lugar! Que
cara é essa?" E desconversa-se... Acha-se o maior, reflete,
e fica no meio termo entre o belo e o feio. Acaba por ir dormir
achando uma e outra coisa, ou todas... com a traço dos desenhos
de carinhas tipo "emotions".

Acho o poeta um tipo de narciso incomum, pois ele cega-se
a seus defeitos e conceitos físicos. No espelho ele não quer ver sua
feição, mas seu estado de espírito. Dizem que a beleza vem de dentro
pra fora. Descreio, pois o nascedouro é externo, ou melhor, a beleza
está nos olhos, por isso eu me amo, e, sem querer ser egoísta,
digo ao espelho: 'Tenho ciúmes de tudo que reside em mim, até
desta minha cara definhante, mal acabada..."

sábado, 16 de outubro de 2010

O SAPATO DE MADAME

O SAPATO DE MADAME

Depois de uma festança regada a uísque e champanhe,
a madame, simplesmente e displicente, caiu na cama
desacordada após o porre e insinuações sexuais ao
jogador famoso que a chamara várias vezes de
'maria chuteira do sapato'.

Quando despertou, notou que faltava um de seus sapatos
em que fora à festa. Desespero! Cadê o sapato avaliado em
2 milhões de dólares? -- vociferou no quarto desarrumado
depois de um vendaval de procura inútil.

Junto com seus funcionários e serviçais fez uma varredura,
primeiramente em sua mansão e, em seguida, no local da
noite anterior em que adquirira a louca embriaguês. Refez,
de limusine, todo o trajeto até sua suíte presidencial.

Ah, um sapato folhado a ouro e contornado por diamantes...
Ligou pra polícia. Em seguida, pra seguradora. Desesperou-se.
No contrato havia uma cláusula que não cobria a típica
situação: a perda de um dos pés. Pôs anúncio no jornal, no
rádio, e nada. Sentiu-se a Cinderela mais imprestável e
infeliz sobre a terra...

Passada uma semana, o podador de árvores estava na
copa do pinheiro em frente à sua janela e encontrou o
sapato de madame dependurado num dos galhos.
(Não entendo como ela nem se deu conta do maldito vício:
o de chegar em casa e chutar os sapatos pra qualquer
lado).

Ela, além de recompensar o podador/jardineiro, deu
uma grande festa em que os convidados teriam que
adentrar o grande salão descalços e atirarem seus
sapatos o mais longe possível. Quem fosse o
campeão, ganharia ações de sua fábrica de sapatos
pra grã-finos exigentes com representação em vários
países da Europa e dos Estados Unidos. Pôde-se notar,
ali, que alguns chumbavam os pares a fim de levarem
vantagem, mas eram desclassificados após um exame
minucioso. Por isso, o campeonato foi regrado desde os
primórdios de sua invenção.

Foi assim, resumidamente, que nasceu o "Dia do
Sapato Voador" na alta sociedade. Esses ricos não têm
mais o que inventar pra se divertirem em noites veranescas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

no boteco...

no boteco...

bebo pra esquecê
também pra lembrá
da linda morena
que deixei no ceará

quem num bebe
vive pra me gorá
são asbs...o quê?
a-bs-tê-ni-cos
de enchê o picuá

os bonzão come pipoca
eu os piruá
aqui em sumpólo
os cabra são língua de aço
as muié de amargá,
de bichinho feio qui-nem-qui-eu
ahn!
num sabe se sô rato ou preá

saúde
ught!

ponha maiuma francenildo
num mi pergunta o-que-qui-há
que tô a fim de arrotá
pr'essa vida mardita
sem muito blá-blá-blá
inda ganho na mega sena
dô festa
vai tê buchada de bode & vatapá

aí vô buscá a linda morena
que deixei no ceará

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CHICO PIRULITO

CHICO PIRULITO
minha chica
pirulita do meu tabuleiro
achei você na rua
seminua
desprezada
chamando jesus de genésio
eta boca suja!
sentada no bueiro
pior que a mulher rendeira
que fazia renda pra mãe
e cometia sacrilégio

volte
por favor
até meu cão perdigueiro
sente falta de teu olor
a casa tá vazia
o jacarandá em flor
pras galinhas fiz um galinheiro
pras cabritas um cercadinho
fiz até um novo banheirinho
pra cagar sossegado o dia inteiro


minha raiva naquele dia
foi por causa da porcaria do amor
só porque dei uma de beija-flor
cê me traiu com aquele nego berebento
que na escola de samba toca tambor
com aquela camiseta do mengo encardida
parece aquele cara do filme de terror
fiquei feliz quando soube
que ele pegou uma gonorreia daquelas, eh, eh
e foi pro desfile com o pinto em chamas, ai, ai


tudo bem
comprei um garrafão de pinga
7 pacotes de cigarros do paraguai
mortadela e mussarela de muito sabor
tô regando o pinheirinho
pra gente encher de bolinhas coloridas
+ um pisca-pisca
(quem ver dirá que aqui tem um lar cristão)

pense bem nas compensações
mas sem retaliações

eu de sultão
você de odalisca
no natal/carnaval
desigual na canção
seu lindo estrebilho
onde teu galo levantará a crista
bicando teu famoso bolo de milho

desamassei as panelas
faxinei o barraco e o quintal
comprei uma TV usada
pra gente assistir a novela e o jornal
um bom vinho da terra do pinochet
ah, e um monte de pano de saco
pra fazer guardanapo com barrinhas de crochê

esse filho que você arrumou
hoje em dia é normal...
lembra da minha ex
que foi iludida por um cafetão
que do nada pegou a estrada
só com a roupa do corpo
meio que embriagada?

sabichona
disse que ia ser biscate
no distrito federal
ah, se meteu num assalto
e foi encontrada morta no asfalto
é, seguiu a procissão faroesteira
aventurou-se
cresceu o zoião
virou estatística brejeira

vem
que sem você ando meio espacial
não vamos chorar o que passou
daqui em diante tudo será legal
já pensou nós dois
dando uma piaba de bilhar
nos marrecos dos botecos
que acham que sabem jogar


vem vai
que agora eu caso
senão me arraso
e me apincho
na frente do trem da central
chupando meu pirulito
quer dizer
chupando um pirulito
minha marca existencial
meu apelido
que desde moleque tenho
quando eu passava com meu tabuleiro
e os manés me diziam:
e aí ô chupa-chups
chupa bonitinho
assobiando o hino nacional, ahá-ahá

maldita criação
fiquei liso que nem sabão
sabe que logo vou me aposentar
com uma carteira em branco
sem ficha no inss
sem conta no banco
mas a união faz a força, né não
tô até pensando numa conta conjunta
pra selar nossa paixão
já pensou eu e você
viajando pelo brasil
na carroceria dum caminhão
numa lua de mel eterna
à espera duma cisterna
pra nos refrescarmos nus
nos confins do sertão

que sonho, hein
sem sair do nosso barraco
nós e os nós
deste nosso amor/carrapicho
joga fora no lixo a incompreensão
o seu chico te aceita de volta
apesar da provável separação

ah, a plaquinha com nosso nome
pendurei na entrada do portão
pra você saber o quanto sou sincero
é, a que tem dois corações
unidos por uma flecha que perpassa-os
como um espetinho de churrasco
humm !!!
tô vendo o barraco em festa...















............................................................................






interminada.

tu és daninha que nem pimenta
por aí arde sem cabresto
no arreio te porei, jumenta
do seu fogo farei refresco

venha, minha erva mais fedida
com esse zoião arregalado
tem gramas mil pela vida
tenho a chave do cadeado

procotó, procotó
vem de mim tem dó
toc-toc, me toque feiticeira
tem um nó no meu gogó

terça-feira, 5 de outubro de 2010

2 POEMAS.

2 POEMAS.



poesia in-natura.

quero fazer um poema que fale em replantar árvores
para acolher as aves em extinção

que diga à figura humana que
ao lê-lo
não faça oposição nem ignore-o
como um copo d'água límpida que se atira no chão

quero fazer um poema que fale do ecossistema
ser o gene da evolução
mesmo que seja esquecido no desejo parido
de tanta involução

quero fazer um poema verdejante/anilado
pra todas as bandeiras
de norte a sul num recado
contagiar mentes negreiras
na tela branca da aquarela mundi
que de lágrimas tenho esboçado


...........................................................................


freda tinha o boneco
guido era ventríloquo

famintos e sem grana
na praça se encontraram
um plá e combinaram

fizeram uma pequena apresentação
uns trocados arrumaram

mataram a fome

freda foi pra cidade
guido pro sertão

saudades...

sempre voltam à praça
o ponto de partida
do interesse mútuo
onde um pelo outro
sentiu gratidão

ambos se procuram
pra revelarem
o desejo que se perde
como passos na multidão

sem falsa autodublagem
a grande frase que faltou
na encenação do show

já que na distância descobriram
tarde demais
que seus dirfarces eram reais

que o amor é bobo
engraçado

e o que une os casais
é o medo da separação

é a voz falsa
que engana o coração

é o maldito 'se'
se se tivesse
no ato
se revelado na graça
de um olhar que se apaga
se a boca diz 'não'

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

À ESPERA DA MEIA-NOITE

À ESPERA DA MEIA-NOITE

23h50. --
Num ataque cíclico e píssico, risco um xis no lado esquerdo do peito. O alvo: meu coração quente, ora gelificado. Preciso morrer urgentemente. Não tenho descendentes nem sinto
saudade da sujidade que me cerceia e me cerca dentro do que não sou, dentro do calidoscópio de
relembranças intermitentes. E, se fui outro, já nem sei da letargia em que me vejo como o manequim em que os olhares de desdém deixam-me caído, de bruços, sem que viv'alma o coloque na vertical. Quero morrer. Definho ao som dum rock dos anos 70, um clássico que me traz à tona
eu vestido de roupas psicodélicas para ser notado. Mudo de estação: um som que até hoje adoro:
"Maracatu Atômico". Outra estação... até chegar à voz dum pastor que prega o exorcismo dos
demônios desde o gene (...). Como é bom morrer na primavera paradoxal -- penso -- ...nas
chuvas, nas lesmas subindo as galhas, os muros... no barro podre e fétido onde as sanguessugas
procriam tal resumo de chiqueiro existencial. Ah!, como suguei tantos sentires nas falas como
notas dissonantes da melodia universal de desejos e frustrações! Ah!, como é bom divagar sobre
o diz-que-diz dos nichos da teórica e heterogênea união de irmãos e meio-irmãos que me olham
e nem me veem. Ah!, quanta patifaria nos lares reprodutores da cartilha pueril que se torna descabida à crescença ambiciosa. Ah!, o dardo venenoso, imprevisível, que fere o momento
feliz e possível que o meio permite. Ah!, somos nada, apenas dependentes do outro e, pelo
outro, vivemos. Ah!, iluminado sou!, por projetar meu fim e rir dos espíritos assombrosos!

23h55. --
Do que me lembro? Lembro-me que roubava figurinhas para o ábum que jamais preencheria.
Lembro-me das frutas roubadas para matar a fome menina. Lembro-me da primeira vez que
pus os pés em São Paulo. Lembro-me que sempre fui cigano socializado, um pária sem ideologia
que nunca quis ter um carro, uma casa, uma caderneta de poupança, um nome. Que nunca quis
herança, mas quis um amor inocente (canafeuniano) que jamais realizou-se. Por quê!? Porque
sempre senti-me observador: o espectador, não o protagonista. Sempre contentei-me com
migalhas, pois o pivete de rua nunca ausentou-se de mim. Amei as mulheres que tive, as
respeitei, ciente de meus "élans" casuais, limitados.

23h58. --
Penso na minha mainha que morreu cancerosa. Penso que foi a pessoa mais honesta que
conheci. Dela guardo a imagem, um tanto distorcida, em que de sol a sol eu sofria ao vê-la
definhar-se puxando água do poço fundo. E também de como eu sorria por ter um prato de angú
de fubá e couve na mesa pensa de quem pensava em enganar minha fome. Antes de morrer,
já em estado terminal, lembro que lhe prometi um bom vinho português, um naco enorme
de mortadela defumada e muitas, muitas azeitonas verdes e pretas pra ela esquecer-se
da vida miserável que teve ao lado do meu pai. Contudo, no final, só me restou vê-la com
a cruz de chumbo às costas e sentir o quão impotente e frágil é a vida humana. Minha mãe
nunca pegou um trocado e gastou com ela mesma. Foi o atributo que me deixou.

23h59. --
Quem ficará com meus trecos, meus objetos e textos medíocres? Há um silêncio inquietante
nesta sala quebrado pelo tic-tac do relógio analógico. Já não me recordo de tudo que escrevi.
Não me recordo de meus inimigos e desafetos. Gostaria que eles soubessem que sempre
convivi com um monstro dentro de mim: o da indignação. Vida longa a todos! Meus poemas são decadentes, feios demais... mas, em respeito à poesia, não direi um só palavrão nem pensarei
em cacofonias... não e não! Ponto. Meu ato seguinte não será de covardia, pelo contrário.
Será um ato original, talvez o único em que satisfarei meu real desejo "na fissura", embora
o espelho desta cômoda em que escrevo insista em me dizer: "fique um pouco mais".

24h00. --
Está consumado. Gotas de sangue mancham minha camisa e calça brancas. Estou trêmulo.
Estou no centro do campo e os espectadores estão na expectativa... eles vibram no aguardo
da espetada final. Experimento meu suor. Meus pelos estão eriçados. Vou simplificar: na
gaveta tem meu revólver com duas balas no tambor pra desencargo de consciência. Só preciso
de uma. Deito-me na cama desarrumada e mal-cheirosa. Vejo soldados num campo de batalha,
corajosos, atirando e fincando as baionetas uns nos outros... e o coração plasmado pela mão da natureza desfaz-se com a avalanche em qualquer monte Everest na estação vernal. Pássaros
negros, nômades, perfilados como flechas de setas pontiagudas, rumam para não sei onde
no vazio grafite de pigmentos brancos borbulhantes em minha última visão e pensar reais.
Eles, os soldados, matam para não morrerem; eu, morro agora pelo medo de matar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

...

...

RECORDO AGORA
OS ANOS QUE SE PASSARAM
DE MINHA JUVENTUDE

DESFILAM NA MINHA MENTE
TANTAS FRUSTRAÇÕES
TANTOS ESFORÇOS INÚTEIS
TANTAS BUSCAS INFRUTÍFERAS

E HOJE
AO NOTAR A PELEJA CONTÍNUA
SEM TRÉGUA
REVOLVO MEUS VIVERES
EM PROFUNDAS ESCAVAÇÕES
NA ÂNSIA DE ENCONTRAR
ENTRE AS PÁGINAS DESCORADAS
A RAZÃO QUE JUSTIFIQUE
A IMUTÁVEL SOBREVIVÊNCIA

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

debaixo do meu chapéu...

debaixo do meu chapéu...


tinha um pássaro amarelinho
que fez seu ninho
debaixo do meu chapéu

tinha um arco-íris
que entrecortava de fora a fora
o horizonte do azul do céu

tinha uma sinfonia de beethoven
que só os ingênuos ouvem
não catalogada
tão serena e leve
como o cair da neve
na esperada alvorada
que eu assobiava ao léu
debaixo do meu chapéu

quando a donzela
vinha se achegando
abanei-o em saudação
mirando a capela
por tanto amor
menos por educação

mas ali parado
por ela desnotado
senti-me judiado
quando ela virou o rosto
pro lado errado
de minha ilusão

então

o pássaro migrou
abandonou minha percepção
o arco-íris se dissipou
ensurdeci-me à canção

segui pela estrada
com a cabeça de pesar pesada
com meu chapéu na mão

terça-feira, 21 de setembro de 2010

a consulta.

a consulta.

aí vem o analista
e lhe dá um paleativo.

nem viu a careta que ele fez
espelhada em sua bola de cristal.

-- mas dotô, a dor que me incomoda
tá meio fora de moda... é dor de amor
sempiterno, acho.

-- ôô cabrão! que puta maricas és.
sejas macho, tchê. aguenta firme
e fala pra tua velha dar-te a dose de
8 em 8 horas que vais esquecer da puta
por mágica.

-- sei, sei. mas dotô navarro, que porra
de sonífero é este?

-- é minha receita pra corno manso
que acha que analista resolve a pendenga.
fuerza hombre! procura uma prenda mais
honesta que não manifesta subdesejos
indecorosos à bem valia da família
tradicional.

-- ahn! mas dotô, eu apenas quero esquecer
minha avó de 100 anos que ontem foi sepultada
e nem tive tempo de dizer-lhe adeus. e minha
mama querida me abandonou por um uruguaio
enquanto meu pai dava um duro danado
pelas estradas brasileiras e não marcava ponto
em casa.

-- ah, está explicado. se não és corno, cancela
esse paleativo. toma o cartão. vá até a cabocla jurema,
a benzedeira, e toma um passe. meus honorários
custaram-lhe a bagatela de 500 reais.

-- quêêê!! o senhor não resolveu meu problema!

-- ué? não leste a placa na porta de meu consultório?...
nela está escrito em letras garrafais: "Assistência
Amorosa e Encaminhamento a Almas Sofredoras & Afins".
é meu amigo, é o preço da informação.

-- só que com esse 'quinhentão' vou comprar um
plano funerário pra mim, pois certamente
virarei matador e perseguidor de cabrões como tu
que, em vez de fazer uma lavagem cerebral no
paciente, acaba por poluir o resquício de afeto
que ele inda possui. tá vendo o brilho
do meu trabugo?

-- soy macho sô! não temo a morte nem levo
desaforo pra casa, principalmente de bundas
moles com flertes psicóticos de machão...

-- ah é!

três tiros. dois no peito do analista e um que
estilhaçou a bola de cristal. estava feliz.
foi a floricultura e comprou um buquê de flores
para decorar o túmulo da avó. e já que não tinha
mais ninguém prometeu a si mesmo matar aquela
vadia que o traia com o dotô. e deveras resolvido
iria, pelo menos, escutar uma palavra
de conforto com a cabocla jurema e contar
seu caso. ah, mas se ela vacilasse com uma estorinha
própria dos charlatães, hum! -- mostraria-lhe o cano
reluzente de seu .38 dentro de sua ceroula e nem que
fosse de mentirinha ia ter de resolver seu caso (de polícia).









e

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

balada do amor perfeito.

balada do amor perfeito.

amor no peito
se ajeita
numa viela estreita
onde só passa um

que diz que a receita
é a convivência
de quem espreita
e suspeita...

aí o jacu-lambe-cu
replagia indiferente:

ó coração inconsequente
que vive no aperto do nó
meio sem jeito
há um caminho ao nada
na jornada descompassada
pipocando em baticum
queres carregar
a chama do amor perfeito
de dois que se tornam um?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

seis palavras em exercício

seis palavras em exercício.




seis
palavras
mudas
não
dizem
basta!

basta!
seis
mudas
não
dizem
palavras

seis
palavras
mudas
dizem
não
basta!

não
dizem
não
basta
seis
palavras

mudas
seis
palavras
não
dizem
basta

dizem
basta
seis
mudas
não
palavras

poeminha infantil.

poeminha infantil.

marimbondo vinha voando
pousando em balé
picou a cabeça do mané
não doeu nada
seu mané usa boné
olé!

marimbondo quis picar
a crista do garnizé
levou uma bicada
zonzo deu de cara na escada
parece que ficou lelé
olé!

sai do meu pé, chulé!

a ...eta da julieta.

p/ bocage.

a ...eta da julieta.

como fico teso na cozinha
dou uma paradinha
em câmera lenta
enfio goela abaixo
um teco de polenta

ahhhhh!

a ...eta da julieta é preta
imunda como o rabo da marieta
que fazia careta
quando via meu perneta
atrás da mureta
pau de galinheiro
de tantos paus
que ali deixam suas marcas

a dita cuja
tem pêlo pra todo lado
uma abertura imensa
não fica na vertical
tá sempre pensa
todo homem quando vê a ...eta da julieta
fica de cabelo em pé
e o resto dormente...
cheira
tateia
faz cara de quem comeu e não gostou
aquela cara de humilhado indigente
pega o boné
num prejulgar inclemente
(dá pra dormir com um barulho desse?)

credo, como fede, parece que ela não lava a ...eta.

tô aqui batendo uma e pensando
na ...eta da julieta.
nossa! que pressa a minha!
justo agora
o molho branco caiu da minha mão
borrou minha calça azul clara
ah, se a jussara
perna de taquara
rival dela visse
ia pensar o quê?
ia fazer um auê
achar que sofro de ejaculação precoce
maldita tosse!


ainda não estou satisfeito
vou bater um pouco mais
como cansa!
estou molhado de suor
pelo esforço repetitivo
ei! parece que o fermento é bom
como cresce!
nossa!
nunca vi crescer tanto!

ah, se a julieta estivesse aqui
abrindo a ... eta pra eu ver...
é que sou curioso,
fogoso e o escambau
cara de pau até
por pensares libidinosos que me vêm
sobre a julieta e sua ...eta

a ...eta da julieta é preta
sou doido pra fuçar nela
a massa da torta tá no ponto
o molho jogarei por cima
preciso descansar

como será a ...eta da julieta?...
se a bolseta fede assim
imagina a bolsetinha escondidinha
dentro da calcinha
perto do ...etão
onde ela guarda seus trocados...
(sei tudo sobre ela)

ah, bolseta, é com esse...?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

atemporal.

atemporal.


no chã árido de plantas súbitas brota o verde empós dos temporais. o corpo frenético de um ser esquelético afunda lameado na derradeira miragem de um sol a moldar relevos paradoxais do tempo primaveril que, quanto mais nasce, mais morre a abstração futura na querência imensa de andares retroativos do presente mutável. há de se ludibriar ainda, pois o frescor d'água que o brinda tão efêmero é tão-somente o desejo, a volúpia, de um passo de cada vez do caminheiro
insatisfeito rumo ao horizonte metamórfico em que ele apenas passa sem se importar com seus descartáveis pensares: sinônimos do espelho que o molda.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

a bendita foi-se.

a bendita foi-se

chegou com sua malinha.
de repente.
parecia santa peregrina
em dia de procissão.
malandrou-se.
maquiada
coloriu minha vida.
rezávamos todo dia
à nossa eternal felicidade,
aí começou ir pra cidade
e o diabo dela se apoderou.
tanto ela me jurou
com os te amo ilusórios
que corri em cartórios
de casórios
pra legalizar nosssa situação.
agora,
depois e eu ter-lhe dado pão
me vem com a separação.
disse-me que ia montar um alazão
na garupa de um cabrão.

lhe respondi: vá então -
da porta da casa
com a foice na mão

é.
a bendita foi-se.
maldita hora
que deus atendeu minha oração
e me deu uma santa do pau oco.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

paineira velha - 2

paineira velha - 2

ah, paineira velha
de idos carnavais
por que te vejo
como um beijo
que não provarei jamais,

tua sombra
assombra meus ideais
tais a ti sentir-me
esquecido
em cada flor nascida
na primavera da vida
que revela meus ais

sábado, 4 de setembro de 2010

paineira velha

paineira velha.

paineira velha
de beira de estrada
tanto fui e vim
tanto vou e volto
de tudo que eu sabia
de tudo me revolto
se já não sei de nada
nem duma nova jornada
nem mesmo de mim

paineira velha
de beira de estrada
onde o pássaro faz morada
mora nos meus olhos
ó marco de encruzilhada

de frutos na caminhada
que não colhi
vendo tua copa florida
na vida encantada
sinto que por ti passo
tão só como tu
resistindo ao tempo
de um portal ao vento
ao relento
da lua apagada

que vai se abrir
luzir
se sei tudo que sei
já de saber de tudo
meu coração mudo
nas rédeas da esperança
nunca se cansa
de tantas viagens

desde tua sombra
a lúdicas paragens
dum corpo sofrido
que cansado descança
livre leve criança

ó incontida festança
estrada da paineira velha!

que minh'alma não fique calada
se eu um dia não regressar

estarei como tu esquecida
na primavera da vida
que daqui vejo noutro lugar

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pro deserto do Sertãozinho, já!

Pro deserto do Sertãozinho, já!

Ah, quanta bugiganga! Eu numa tanga de dar dó.
Já masquei todos os cravos. Tô com a boca amarga
que nem jiló. Eu bem que podia ganhar na loteria,
a da contravenção tipo jogo do bicho. É, mas só jogo
na 'das frutas'. Quantas combinações dão? Tem um
matemático de plantão? Tem aí? Ah, tem um pequeno
detalhe: além da combinação (joguei na morango/pitanga),
pra ganhar, tem que se acertar a dezena do primeiro
prêmio da Loteria Federal.

Ô vida fubanga! Por onde andará a maluca Vanda... Faz
6 meses que ela foi pra Boiçucanga... Preciso sair
urgentemente de rolê. Aqui sou livre, sonho, mas não
me convidaram para o boi no rolete com chope zero grau
lá na fazenda californiana de Ribeirão Preto. Ô vida de
gado!, como diz o Zé Ramalho...

Mas num-é-qui-é?! Não tem data marcada meu funeral.
Ói lá o cara no caixote que nasceu nu, mas que de terno
e gravata faz a última viagem...eu não!... quero ser
enterrado nuzinho da silva, ao sol e som das ondas,
por um caiçara de pele pigmentada de picadas de mosquitos
e pernilongos.

Pelo menos lá na baixada não vão me prender por
vadiagem. Que bobagem! Esta vida de andejo é sacanagem!
Quanta pilantragem! Acho que sou igual ao 'pequeno
gafanhoto', Kwai Chang 'Caine' do David Corredine, só
que não sei lutar kung-fu. É. Pois é, ó! O mundo me parece
pequeno no mapa que carrego na mochila. Maior que o mundo
é o problema de eu encontrar a mim mesmo.

Vou indo. Pelo menos lá no Sertãozinho posso alçar voo
sem sair do chão. Lá sei que estarei só, mas sem essa de
solidão, meu! Ué? -- perguntam os consumidores de
shoppings e supermercados -- como vai alimentar-se
por lá? Ah, os miseráveis de lá não negam um prato
de comida -- respondo e fui!

o esse.

o esse.


morrerei no futuro
no presente que lá acontece

mas agora
de tanto viver
até de morrer
a gente se esquece

na hora
que o plural
meu dia envelhece com um "S"

pensamento.

pensamento.

pinto um quadro mental
em pinceladas na areia

mas não sou artista
de cometer atos
que a bela vida enfeia.

um pensar entremeado por uns puns.

um pensar entremeado por uns puns.



a fumaça vem da chaminé
do escapamento dos autos

na cidade

onde se esconde meu quarto
poluído por um pum que soltei
pelo cigarro que acendi

sei não, ahn-ahn
(pausa prum pigarro)

esse negócio de poluição
acho mesmo um sarro

homem versus máquina
criador versus criatura

já nem sei
se se polui mais com o cu
ou muito mais com a mão

mas até a máquina cabeça
de pensar
fede pra cacete

"um cara inventou um bracelete
que inibe o peido e desintoxica o pulmão.
se a moda pegar vai ter passeata na são joão
contra a repressão a favor da despoluição
ecologicamente correta. será? "

nem precisa ser profeta
pra antever a ebulição

quem polui com gases venenosos
que fique com o cu na mão

"do meu quarto pra outros quartos
é este meu recado até os confins
biosféricos a capitalistas estratosféricos
que ainda vão extinguir toda civilização.
ponto final. tá vindo unzinho. quanto egoísmo
o meu..."

DIFERENÇAS DE ESTILOS

DIFERENÇAS DE ESTILOS

UNS USAM O CONCRETO PRA FALAR DO IMAGINÁRIO;
OUTROS, O IMAGINÁRIO PRA FALAR DO CONCRETO.

classes.

classes.

de cócoras
do alto do morro
de favelópolis
mastigando chiclete
chupando um drops
o piá mira
o outro da urbecapital

que num dos prédios
como ele
desentende os porquês
dos nichos vivenciais,

entre eles há um muro invisível
de nortes infindáveis,

um dia
na rua
talvez até se cruzem
cara a cara
em desejos enclausurados
nos desvalores
do senso comum
que os levam a ver
sempre um degrau acima

da escala na escola
de classes ABC
na única lição vital a todos:
VIVER
a qualquer custo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

quadrinha

quadrinha.

da veia jorra sangue
da mina água
minha mágoa cobre o mangue
onde o mar pequeno nele deságua.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

onde me vês estou

onde me vês estou.


hoje eu comeria
o pão que o diabo amassou
pra te encontrar

e simplesmente
dizer sim à vida
sem medo
de morrer em teus braços,

hoje
uma porta se abriu
a um rio
um barco me levar
ao sonho primaveril
guardado no olhar


não posso me conter
na senda deste destino

de pés alados
no afã sem controle
a achar tuas pegadas
no deserto
onde vaga incerto
neste curumim
o desejo enfim

a ti chegar

se me disseres
que até o último suspiro
me esperarias
no muro da última estrada

no olhar distante
confiante
de que em meus braços
também morrerias por mim

alegria, alegria!

alegria, alegria!

olha a alegria todo dia
maria fumaça que não vem
e me faz buscá-la
sem escala
daqui no trilho além

eta vagão da vida passageira
que vai a mais de cem
longe desta mangueira
tem a fruta que me apraz

por detrás do monte
lá se esconde
minha razão primeira
um sorriso fugaz
que fugiu da coleira
na cartada certeira,
vitória de um ás
a um passo da ribanceira

ô seu maquinista
quero chegar em fugacity
pra ver a primavera
quando eu fechar o livro
da janela de seu trem

apita que tá chegando
o moreno galante
pra morena falante
na estrada desta vida

quebrar o quebrante
da viagem aflita
que se tornará bonita
a tudo que eu não via,

é que só agora vi
o trem da alegria
que passa logo ali

piuííí!
tá me chamando
piuííí!!
tô embarcando,
laiá-lá-pra-lá, laiá...

sábado, 21 de agosto de 2010

à face do dia.

soneto. 1 está certo 12 sílabas



à face do dia.
não me roube o tempo o terno catavento
da mão menina a tatear este encanto
que correrá sem a dor do esquecimento
pra renascer o riso depois do pranto

não me cubra o mal com o seu negro manto
meu afã e crença à busca do firmamento
se minha cruz torna-me mais e mais santo
com frescor natural que pueril ostento

não roubem as flores deste meu acalanto
nem a modéstia deste raro momento
se no meu ser poluído paira o recanto

disfarçado no verbo viver cinzento
a roubar as flores que agora decanto
cada vez mais cálidas no experimento.
soneto. 1



não me roube o tempo o catavento

da mão menina a tatear o encanto

que correrá da dor do esquecimento

pra renascer o riso depois do pranto



não me cubra o mal com seu manto

meu afã e crença no firmamento

se minha cruz faz-me mais santo

com o frescor natural que ostento



não roubem as flores de meu acalanto

nem a modéstia dum raro momento

no meu ser poluído há um recanto



disfarçado no verbo viver cinzento

a roubar as flores que ora decanto

cada vez mais cálidas no experimento.

cantiga

cantiga. 1

portas abertas.


tinha uma véia florinda
que não sabia
não sabia o beabá

quis saber da coisa linda
do mundo
do mundo do lado de lá

aprendeu muitas palavras
hoje tem tanto tempo
tanto tanto pra sonhar

..................................................

cantiga. 2

vésper.

hoje no céu ameno
vésper pode-se notar
até deus vê meu aceno
se olha pro meu lar

o brilho lá sereno
cai cá no meus olhos
pro vésper ver passar

no azul supremo
que longe beija o mar
menor que o afã pequeno
mais e mais dobrar

hoje no céu ameno
tem um rio pleno
um barco me levar
molhado de sereno
até vésper voltar

poema idiota numa noite apaixonada

poema idiota numa noite apaixonada.


o alfaiate com seu molde
faz muitas peças.
o fundidor com sua matriz
faz milhares de peças.

bendito espermatozóide
campeão de natação
que entre milhões te formou.

eu
que a vi
desde antes de tua primeira menstruação
agora moldo com os olhos
tua forma única
sem ser artesão de nada
tateando suavemente a argila

exemplar inspirado
em teu corpo nu
que
insaciável
nunca hei de tocar
nem terminar
tuas medidas anatômicas

neste barro
deste barro ao pó.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

num triz sem bis


num triz sem bis.

(de minha nova série de contos 'Conta que eu conto'.


Num lugar ermo achava-se catando coquinhos, nu,
sem saber que estava cercado por um bando de índios
-- tarado, homossexual e irracional -- que nunca haviam
visto uma bunda branca pela frente. Todos com suas lanças
na vertical.

Correu desesperado pela mata densa no dia tempestuoso.
Um raio às suas costas partiu o tronco de um ipê-roxo
e às sequelas o deixaram desacordado.

Quando acordou todo dolorido, notou que havia sido currado
pelo bando. Tramou e, numa noite de lua minguante, ateou
fogo na aldeia indígena. Mas fora avistado. E, novamente
correndo pela mata virginal, chegou à beira do grande rio
caudaloso e de águas barrentas. Ao virar-se, de repente,
como por encanto, viu os índios atirarem-se de bruço e
lamber o chão úmido, em reverência.

Não notara, mas ladeando seu corpo uma enorme sucuri
tinha quase meio corpo acima da flor d'água.

Entrecortou o enorme rio e viu uma barcaça a motor que
vinha pelo lado esquerdo (oeste) à meia força, silencioso.
Ignorou a cobra, nadou e foi recolhido pelos navegantes.
Contou sua história e ficou sabendo que um cineasta
alemão e sua comitiva que, aliás, tinham invadido o Brasil
pela Amazônia Colombiana -- estavam filmando a terceira
versão de "Anaconda", e a cobra que fez os índios caírem
com o rosto em terra era feita de resina e papelão por
artesãos brasucas do Rio Grande do Sul.

Foi interrompido em seu relato pelo roteirista e câmera-man
-- num arrastado portunhol de mais gestos que palavras --
que lhe disseram que haviam filmado a cena toda e se ele
poderia voltar a catar coquinhos e que ficaria famoso
em todo o mundo se recolocasse sua bunda branca a prêmio.
No que ele respondeu-lhes que pimenta no cu dos outros é
refresco. Os dois rebateram e lhe explicaram que certas
cenas são impossíveis de se fazer em computação gráfica.

E o título do fime seria 'Anaconda pede bis na toca por um triz',
mas ainda dependia do ok do diretor que o entreolhava
com uma cara de safado...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

PIF-PAF

PIF-PAF
(Chico Estradeiro, um andarilho)

Meu mano, depois de beber e cafungar a noite toda,
passou por mim e me perguntou quem era ele.
Repliquei dizendo que ele era ele. Mas ele treplicou
e disse-me que eu era ele quando a doideira passasse,
se bem que desejava continuar doido pelo resto da vida.
...

Tirei da carteira uma foto 3x4 e lhe dei. Aí ele sorriu e
me disse "Tchau, meu eu!". Ahn! -- respondi -- Falô
meu você! (?)".
Por um momento quis estar na pele dele. Mas será que
não estava à baila minha caretice toda?...
(pensei em fumar um basic pra destrinchar a questão).

...

Semana passada me chegou a notícia que ele morrera de
overdose num sarau de malucos no litoral norte, onde
o cachimbo da paz passava de mão em mão. Aposto
que ninguém mais sabia de si àquela altura do
campeonato.

...

Éramos bem parecidos. Ontem fui visitar seu túmulo,
com uma flor de plástico jogada ao lado, no cemitério.
Vi que a foto da placa era a minha, a que eu havia lhe dado.
Mas me chamou a atenção o epitáfio:

"Vou pra não sei onde,
mas não esquecerei os malucos
que aqui deixei.
Sou você amanhã."

...

Porra! Mas não é que é? Me caiu a ficha face a tamanha
sobriedade... Eu sou você, você é eu...
Somos todos farinha do mesmo saco de quem faz o pão
alimentar pra tudo virar bosta... pra bosta virar adubo...

PIF-PAF! Esta vida é mesmo um jogo rápido.
Serão os corpos espíritos que saem dos espelhos?
Tô endoidecendo ou será que assimilei e fui contagiado
pelo afã libertino que ele me passou? Sei não.

SOBRE POETAS, POETAÇOS & OUTROS.

SOBRE POETAS, POETAÇOS & OUTROS.



há poetas que escrevem muito, imaginam muito
e pouco dizem.

há poetas que escrevem pouco, imaginam o suficiente
e muito dizem.

há poetas que não escrevem nada, mas deles os que
escrevem pouco e muito dizem.

"de poeta e louco
todo mundo tem um pouco"
(dito popular).

uns escrevem, outros não.
muitos ruins,
poucos bons.

mas não deixam de ser poetas porque o que os
diferem vai além da imaginação do pouco e muito,
do bom e ruim, já que o ato de escrever é,
do eu verdadeiro, a continuação.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

eta nega empacadora, sô!

eta nega empacadora, sô!


nega neguinha
que-qui-cê-qué
sai da minha cola
vai pra escola ensaiá
sei lá sô
eu vô pro maraca
ver o mengo jogá
mengooooo
mengooooo...

neguinha
num faz samba c'as panela
vô te levar tomar um passe
c'o a cabocla stela
s'ela não a resolvê essa mandinga
encho os cuião de pinga
só volto quando manhecê

nega ô neguinha
me faz um chamego
vida de nego
num tem segredo
é só tê uns troco
cá gente é feliz sem sabê.

nega... ah, neguinha!
óia
não dá bobera
depois do jogo
tem pagode no alto da lapa
o coro come
parece brincadera
num faça banzé
samba sambando
me faz cafuné

vamo dá um taio nu visu
vem nega vem
sem barraco no barraco
hoje num vamo comê chuchu

ih, nega
será que o zico vai jogá?

escuita
mengoooo
menngoooooo...

vento ventania

vento ventania.


vento ventania
me leva daqui
quero na brisa do mar
alçar voo como colibri

tirar o néctar de tudo
do pouco que tem aqui

vento ventania
me inspira só por si
quero a flor mais bela
que mora logo ali,

do ocidente oriente
também ela há de partir
me achar num olhar
uma rede dividir


ao vento ventania
meio à folia
de um coqueiro resistir
ir e vir sintonia
telepatia
em palavras tolas
como conto de saci

uma ilha
mato verde
entre muitas flores
sem dores escolhi
uma sereia de amores
que me espera lá diante
nem sabe se chora ou ri

ao vento ventania
em que plaina leve
livre o solitário colibri

lá-lá-lá...lá

alguém atenda, por favor! (ocupado...)

alguém atenda, por favor! 



quis pegar o táxi mortal
na beira do mar
escuro de seu resumo
ora imerso
ora emerso
riu como o palhaço
no picadeiro
que leva a vida a sério

ia e vinha pelos cômodos
de quês irrespondíveis
ora gostava e morria
ora odiava e vivia
no puleiro de ideias
como o pássaro irriquieto
na gaiola seu muro
a separá-lo do normal

precisava duma voz
qualquer voz
que saísse do pêndulo
de um relógio
ora pra lá
ora pra cá
um sim um não!

por um triz
perdia o jogo...

já o motorista o aguardava
na frente da porta
buzinando em eu ouvido
frases barulhentas de morte
descartando as cartas da sorte

um número!
qualquer número!
qualquer desconhecido
de uma lista telefônica!
uma supersônica mensagem!
um beliscão!
um toque!
um choque vertiginoso!
uma fuga impossível!
explosão!
e o silêncio imortal
de um olhar ao céu


discou a esmo
em sua teoria existencial
uma voz disse-lhe 'fique'
não apresse os dias
sofra um pouco mais
sorria
ironize à condição humana
de milhôes como você
virando-se na cama
quanto mais se expandem
mais o isola

a solidão é a metade
que te faz inteiro
afogue-se
em suas mágoas
e perca de vista
a imensidão do mar
e perca essa coragem
de derrotar-se

alguém atenda
diga um oi
ele precisa sentir-se vivo
quando o vizinho lá do prédio
apaga as luzes
pra acender seu desespero.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

não mais agora




não mais agora


Não que eu fuja das prisões de sua hipotética cabeça,
mas a estrada que percorro é demasiada turbulenta.
Os meninos que imagino são antirreligiosos, de pais
que há muito observo e bebo em todos os bares, como
se todos os dias fossem de festas lucrativas.

Não me entristeça com seu falso falar. Se suas razões
fossem as que espero, não me manteria aqui, estático
nesta sala reflexiva, esperando a morte chegar.
Mas os religiosos de sua laia continuam contrastando
suas crenças, fazendo-me vítima de seus próprios
desabafos. Ufa!

Não que eu tenha medo de continuar, não. Os alicerces,
que aguardo a tempos, são apenas epílogos e, o fim
de meu ideal, planejo desde data imemorial. Não que eu
seja o cavarde nesta encenação toda, mas se ainda
consigo pensar, imaginar, é porque consegui ver que
a meu lado somente cães me lambem. E o por quê
de tantas histórias no final de mais um longo dia?

Contudo, com você mais uma vez celebrarei. Amanhã
quem comandará o barco será eu. E, quando sentir-se só
terá os pesadelos por que passo. Assim, nunca mais
sorrirei a idiotas tal você. Meu papel, na peça, escreverei
a meu modo. Minha estrada será um teto sem paredes.
No mais, sobre sapatos de ouro andarei. Se meu maior
inimigo me alcançar com conversinha de 'em nome de Deus',
vai se ferrar, levando minha foto pra colocar em seu caixão,
com rezas de uma religião bem solícita em tais horas.


pia-piá

Amélia 21

Amélia 21.
Ele, soltando o verbo, de lá pra cá no fundo do quintal:
-- Mulher tem que esfregar roupa no tanque! Mulher tem
que fazer minha comidinha na hora que eu quero! Mulher
tem que passar minha roupa... e me esperar cheirosinha
na cama... espremer minhas espinhas nas costas...

Em seguida, a esposa chegou do trabalho:

-- Oi amor, que saudadinha de você! -- todo meloso --
Já arrumei o quarto, lavei a loça, passei umas peças,
limpei o chão, o banheiro, dei um lustre nos móveis
e esfreguei suas calcinhas. Olha, a casa tá nos trinques!
Ah, fui na loja e comprei a tinta de cabelo no tom
que você me pediu, amanhã pinto teus lindos cachos, tá?

-- Você preparou meu banho? Estou exausta! Fez aquele
macarrão alho e óleo com filé de peixe pra mim?
Deu brilho nas minhas sandálias?

-- Claro. Ah, amor, vou no bar jogar conversa fora,
comer um torresminho e tomar uma cerveja, tá?
Você vai fazer uma fezinha no jogo de bicho?
Então aproveita.

E, no caminho a mesma ladainha interior:
"mulher isso, mulher aquilo". Uma empregada, ah,
nem pensar, seria o fim do casamento... Imagina
que a Amélia o deixaria o dia todo com uma companhia
feminina!? Sem chance.

Quando chegou em casa, meio que caçando galinhas,
encontrou a porta do quarto trancada e dormiu no
sofá. Um enorme vazio tomou conta de seus pensamentos.
Precisava arrumar um emprego urgente, pois aposentara-se
cedo, jovem, por conta de um problema na coluna.
Diarista talvez? Taxicista? Mas duro seria receber uma
"comida de rabo" logo às seis da manhã quando a fera
sairia da jaula.

Alisou a cadelinha tão carinhosamente se autointerrogando
sobre a rotina chata em que se encontrava e sentiu saudades
do tempo em que trabalhava de pedreiro. "Pô! a mulher não
podia ser como a cadela." E dormiu.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

dorme ó minh'alma


dorme ó minh'alma.

dorme ó minh'alma
que meu peito vivifica
à robustez implícita
na leveza de meu ser

dorme ó minh'alma
no alvorecer por ti espero
impaciente
despertar tanto quero

dorme ó minh'alma
nos confins do nada
por ti repudio
minha vida enganada

dorme junto comigo
alma sem castigo
em mim se refugia
teu silêncio

todo meu fingir
pra renascer
intenso

sem o enfado
da efêmera ferida
tão aqui pressentida
a cegar-me
no ninar invisível
de assim morrer

e frustar-me sem dizer

dorme ó minh'alma
me faça par
sem eu nunca romper
com a vida

viva
tudo em mim
que não consigo descrever

dorme ó minh'alma
dorme
dorme devagar
que eu acorde
sem os pés no chão tocar

sobre trilhos & descarrilos

sobre trilhos & descarrilos.


perverso anteparo no meu peito raia
dos perfis gélidos de rumos ingratos
curva declinante doravante espraia
meus tombos em saltos a montes inatos

se já me vi feliz cá meu ser ensaia
à imensidão do mar em flashes opacos
consagro meus passos nesta negra traia
sangrando-me frágil em surreais fatos

tal trem na curva que este querer vão taia
tal o destino campeiro e seus ornatos
até que de mim uma saudade saia

se já não regresso com novos relatos
na ascenção e queda desta febril tocaia
onde vejo-me ir em presságios abstratos

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Hálux

hálux.

"pés e mãos
3 falanges
menos no dedão
de duas "



não me cata a falange nascida
no dedo em riste dum cabeça
difiro dele numa cuspida
no chão gentil
na armadura espessa
ou nas luvas da desfaçatez

core agora
se tu não vês
no púlpito da estupidez
dois pés lelés
coleando na embriaguez
a rés de seu ãngulo visual
o primórdio de meu não
ao invés
dum cordeiro fixado
em gentes tão iguais
globais
dizendo sim a insensatez
na manobra das palavras
enfáticas
que se irmanam
em congregações de vícios
sob os auspícios
do orador ao microfone

ó morfética ladainha
minha amásia
quer ver a banda tocar
a banda da bunda
de um cu fedorento
de músicos descalços
(fotocópias seriais)
anunciando
cadeira elétrica ao profeta
continuador do velho testamento
com poemas a serem editados
daqui a mil anos...


ó morfética mulher submissa
vais a missa hoje
ainda com seu traje
neo-woodstock
me dá um toque
me deixa um trocado
sou um ex-combatente
perdi os dentes
comendo os fiapos de carne dos ossos
de nossa sociedade alternativa
lembra?

ah, no caminho fume um baseado
basei-se nas frustrações
dos nossos tempos ditatoriais
ademais
pode levar meus sapatos
minhas pulseiras de cobre
e madrepérolas
mostre-as ao capitalismo
de todos os nichos
o quão éramos livres

que se foda o mundo!
tenho só 4 dedos em cada pé
perdi os dedões em apostas
tipo roleta russa
em saraus de loucura
onde os diferentes
ficavam carecas
roiam as unhas
com um "ch"
(comunidade hálux)
um V nos dedos
do paz e amor impossível

vá morfética!
volte morfética!
na nossa ética
só nos resta se foder
sem foder os outros
os caretas
que só têm liberdade
com grana no bolso

vamos fugir
morrer abraçados
a um violão de antigas canções
cafonas
a envelhecerem conosco.

sábado, 7 de agosto de 2010

fingi e finjo, e daí?

fingi e finjo, e daí?

texto no luso com BBonfim
copiar, ok.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

trupicos

trupicos.


tô mais inseguro
que barco sem poita

tomei um laxante
não acho a moita

rabugento
não sei se açoito a vida
ou se a vida me açoita

no espírito
que me vem de manhã
e comigo pernoita

eta jabaculê do balacobaco!

ai-ai-ai
quem trupica também cai

pra mudar de opinião
sem que ela seja afoita

vou correr atrás do vento
meio uó do borogodó
qu'essa labuta só me coita

.......................................................................

glossário:

jabaculê: coisa feita de improviso, gambiarra.

(do) balacobaco: excelente, ótimo, fantástico
(coisa ou pessoa).
borogodó: determinada coisa que se refere a
uma pessoa no sentido de ser horrível, tosca,
brega, o pior do pior, etc.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ENGRAÇADINHA

ENGRAÇADINHA


vi quando ela passou
no lombo do burro
agarrada no seu pai
da beira da estradinha

levou meu olhar
pra eu ver nascer
minha eterna rainha
saí serelepe
nas asas
dos meus pés de moleque
pus minha roupa de missa
minha botininha

crescemos e cresceu
reguei o meu algo novo
como a semente da plantinha

eu viajava sem rumo
no voar duma andorinha

vi que crescer era triste

quando a moça
arrumou um par
passou por mim
toda engraçadinha
foi morar de vestido branco
noutra cidadezinha

seu pai então me adotou
como um filho que não tinha
sem saber
que foi de mim roubada
a pureza que eu sentia
desde os tempos da escolinha

guardo minha esperança
mirando do alto da colina
acima da mina
onde a gente não sabia
de menino e menina

pra sempre esperar
ela um dia voltar
na beira desta estradinha

sexta-feira, 30 de julho de 2010

o homem que colava




o homem que colava.

colava fotos num álbum imaginário
entre a cruz e o calvário

um flash
um vácuo repentino!

lembrou -se do menino
que colava figurinhas

uma foto
sorriu de si mesmo
em charges insólitas

olhou pra frente
tatuou um tudo diferente
na cabeça calva

relembrou
que colava fotos num álbum imaginário
de tudo que viveu

pegou suas malas
seguiu a deus dará.

caça & caçador

caça & caçador.

procura em todos os rostos
encontrar a si mesmo.

encontra em si mesmo
à procura.

pra quem seu olhar aponta
se o rosto que se transfigura
é o seu

que se vai
entre tantos
ferido
num êxtase sem cura?

--

e se cansa
frente ao espelho
refletindo
só ele que se atura?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

OS DIFERENTES ESTILOS

OS DIFERENTES ESTILOS

UM USA O CONCRETO PRA FALAR DO ABSTRATO.
O OUTRO, O ABSTRATO PRA FALAR DO CONCRETO.

pintassilgo

pintassilgo.


canta pintassilgo
mais feliz que eu
canta no meu dedo em riste
canta bonitinho
canta que te dou alpiste

canta canta pintassilgo
voz que a natureza te deu
canta dobra bonitinho
não seja infeliz como eu


canta pintassilgo
na gaiola que cresceu
eu canto do lado de fora
na prisão que a vida me deu


se seu canto é beleza
já o meu é a tristeza
de quem ser livre se esqueceu

canta pintassilgo
canta canta bonitinho

canta e voa
livre miudinho
no alto da paineira
faça seu ninho

e de lá
canta canta bonitinho
a cada manhã
pra eu ficar ouvindo.

3 flores.

3 flores.


namorei 3 flores
a rosa
a violeta
e a margarida
cálidas
ao longo de minha vida

por isso as rego no jardim
pra sentir seu aromas corpóreos

que se perderam no tempo

pálidas se esqueceram
de quão belas são
e foram pra mim

perecível

perecível.

minha poesia nascia do belo
do belo que eu sentia

que se enfeiou
no desencanto em mim

e os versos que já não sei criar
vêm me adiantar

enfim

afastar-me

sem que eu possa alcançar
o belo da poesia
que em mim nascia

o fruto

o fruto.

era dia de sol
ele se foi com jura pro norte
ela pro sul

era dia sem sol
voltou com a chuva
ela com a estiagem

era dia de lua
ele a amou
ela um fruto gerou

era dia sem lua
ele foi pro sul
ela pro norte


era dia de sol
era dia sem sol
era dia de lua
era dia sem lua

era o tempo
era o esquecimento

no dia e na noite
de norte a sul

de um fruto só
no chão
da árvore da vida

terça-feira, 27 de julho de 2010

de poeta pra poeta

de poeta pra poeta


poeta é menino de rua
à procura dum lar
quando encontra um
faz uma refeição
diz que tem que regressar

poeta é ser assexuado
que brinca de amor e sexo
se não pode exercitar
seu imaginário
tão-só só seu fadário

poeta é colibri
de flor em flor
sempre alegre
amical lá e aqui
aparece num poema
pra voar sua dor

poeta é a porta lacrada
que prende o menino
que de amor e sexo
não sabe brincar

quando vê o colibri
a flor plástica bicar
na rua
à procura dum lar

como uma resposta vã
mas que tem que
aqui e ali
procurar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

um sábio neozelandês

um sábio neozelandês

tinha um sábio neozelandês
repórter nas horas vagas
numa crise existencial
procurado
logo depois que passou pelo paquistão
e levou um tiro na bunda

meditando sobre a dor profunda
sobre a bala
sobre a dor na bunda
que abala
traz à baila uma palavra iracunda
berrou:
caralho! porra de caralho!

mas concluiu
que toda bala tem um alvo reto
nem que seja incerto

e também na bala
que atinge um avião
ou
um pássaro que acabou de fugir do zoo
(no ar)
(questão improvável mas possível, que
só passa na cabeça de um sábio)


ficou fodido com o sábio chinês
inventor da pólvora
que queria ficar só no mundo
que ensinou a pescar
mas nunca pescou pra ninguém

pensou no grão de mostarda
numa pequena descoberta
que abalara o mundo

e com tanta dor na bunda
achou que devia existir
uma bala superpoderosa
que fosse capaz de implodir o pentágono
tirar israel do mapa!

mas como era humanista
perdoou o terrorista
que por engano
fez da bunda dele seu alvo
por inimaginar
o que estaria fazendo
um sábio neozelandês naquelas bandas

nunca mais quis frequentar
as frentes de batalha
abalado que ficou
jurou
largar a profissão de repórter
sair da embriaguês
voltar à lucidez

sentar numa pedra diuturnamente
meditar

pra quem sabe uma bala perdida
não lhe atingisse a cabeça
ou um órgão vital

se desacreditava
nas manchetes que via no jornal

de tanto pensar
deu um tiro na cabeça
pra deletar a realidade

quarta-feira, 21 de julho de 2010

POEMA À ANAYRA

POEMA À ANAYRA

de maluco pra maluca
paira no ar uma sintonia
droga? - não!
pura telepatia
de mentes
dementes
há mais gente neles
que toda vã filosofia

não há rapapés
nem papo furado
entre os que
de loucos não têm nada
se estimam à vida
pra no éter
deixarem seu eu gravado

anayra
palavra de difícil rima
mas que gira
se do brasil
aí em portugal
meu olhar mira

pra dizer-te obrigado
de maluco pra maluca
por suas palavras
sinto-me recompensado.

CRÔNICA HIPNÓTICA




CRÔNICA HIPNÓTICA


relaxe
não há tempo nem espaço

olho no OLHO
OlhOnOlhOOO
nOlhOOOlhoOOO
OLHOOOnoOlhO

1, 2, 3
progressão

* pausa para um pitaco intrometido:

(se for homem, pense estar numas praia deserta
com seis lindas virgens loiras, suecas e dinamarquesas
disputando quem será aprimeira).
(se for mulher, na mesma praia com 6 homens virgens,
de perfil grego e que joguem na seleção da itália).

OLHO no olho
1,2, 3, 4, 5, 6, 7
olhe o pêndulo do relógio...

** (adormeçam e gozem a vontade.
fixem-se no pensamento acima
e esqueçam as besteiras do hipnotizador
que não falará em dor, mesmo com a desvirginização
em curso).

relaxe
não há tempo nem espaço
nenhum embaraço

OlhO nO OlhO nOlhO
NOlhO nOlhOnOlhO
OoolhOOOoonoOlhO
OOoonOOlhOolhOno

1, 2, 3
regressão

*** (se for mulher pense que você ganhou a disputa
daquele deus grego com aquela gostosona sueca e ainda
por cima deu uma surra nela, que você cravou as unhas
naquele rosto de boneca e arrancou aqueles cabelos
dourados que te faziam gastar uma nota com
tinta de cabelo).

(se for homem pense naquela loira tingida que arruinou
sua vida e até hoje você ainda paga pensão alimentícia
dum filho ilegítimo, porque na época você estava tão
cego de amor pela deusa pseudosueca que nem se
preocupou em fazer um exame de DNA).

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
olhe o pêndulo do relógio
1,2, 3
(já sei, já sei... olho no olho
e um monte de papagaiada...)

Aí o(a) consultante esbraveja:

"Porra! acordei bem agora!
E ainda vou ter que amargar esta lembrança.
Vamos voltar a progressão senão eu não
pago a consulta, seu charlatão filho da puta!

POEMA EM TRANSE

POEMA EM TRANSE

onde estou?
quem sou eu?

quem são vocês
seres esvoaçantes
vultos da luz do dia ?

porque treme
feito gelatina
esta luz que não alumia?

todo rosto é sem cara
toda cara clara
parece nublada

parem!
não me açoitem!
espantem estas borboletas
estas mariposas piscantes
estes olhares xeretas!

olhem
o trem sobre o mar
pra onde ele vai?

quero apagar
esta ótica irreal
não posso

sou uma memória sem corpo
zuim! zuimggg!
um avião levantou voo
tirem as patas de mim!

não quero acordar
mas preciso
tocar a mancha transparente
tatear as coisas sólidas

cadê meu caderno?
... o eremita quer sair da toca
me toca
há um mundo bem melhor
inescrito
sem destino sem rota

gravitando
para além dessa visão enganosa

não me roubem
estes minutos sombrios
se deles
quero fazer um a prosa multicor
que ninguém entenderá

não me acordem!
quero gozar
entrar de cabeça
xô calmante!
xô sonífero!
quero vagar no universo
sem sair do lugar

onde estou?
quem sou eu?
quem são vocês?
que dimensão é esta?
não sinto meu corpo
mas penso
no lenço ao vento
que não sabe onde vai pousar

penso que aqui não sou eu
mas sou sem estar

outro alucinógico quiçá
... meu lápis! meu lápis!
não digo nada com nada
meu lápis-lapso
me deem já!
pra não fugir esta loucura.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

batel do destino

batel do destino


ô ô ô batel
no mar que balança
sem vela sem poita
fuga alcança
da vida que açoita,

ô ô ô gaivota voa
não me deixe só
minha esperança
segue comigo
nem que no peito
um amor antigo
o lembrar me doa,

ô-ô-ô batel
ô batel
pesca é meu destino
desde menino
com suor e pujança

ôô batel
me leve o vento brando
a água mansa
longe deste mundaréu

batel, batel
siga a gaivota branca
plena de confiança
planando livre lá no céu
parece que de mim tem dó

o mar lá atrás
tem o sal que me magoa
por isso remo só
com a rainha na proa

ah, iemanjá
do mar patroa!
ah, solitária gaivota
há um porto à frente
felicidade na rota!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

não tenho saudade de minha sogra.

não tenho saudade de minha sogra.


dois bocós-de-mola
bem na hora do despacho
raptaram a mala sem alça
poço fundo
de maldade e esculacho.

eles nem sabem
que enfiaram a mão
no balaio duma cobra
pinta brava fofoqueira
a diaba de minha sogra.

antes que eu me esqueça
tenho dó desses caras
que arrumaram pra cabeça.

o bagulho é doido
pediram recompensa
mas se abaixar o santo
na cascavel encrenqueira
sacode a capoeira,
vai dar B.O. na imprensa
seu veneno
mata mais do que doença.

a velha é brincadeira
quer mandar na minha vida
pegar a grana de minha carteira
às vezes me pergunta
se meti a noite inteira.


na hora do resgate
vou mandar dizer que não estou
vou rediscar 190
trocar um lero:
"por favor gambé
fiquem com essa velha biscate!
ela é pior que bicho de pé
pior que trem sem engate!"

tomara a polícia
num ato de sensatez
fique com esse estrupício
pra tirar a paz aí do xadrez,

antes que ela apareça
tenho dó desses caras
que arrumaram pra cabeça.

o bagulho é doido
no cortiço e na rua
a recompensa pago em dobro
mas mandem essa velha pra lua!

nesse samba
antes que me esqueça
esses coitados
arrumaram pra cabeça.

vou pegar meu vale
na sexta-feira
deus!
era tudo qu'eu queria!
arrastar a nega Flô festeira
filha da chocadeira
curtir meu prêmio de loteria
sapatear tomando todas
lá no morro na gafieira.

a velha dançou
o feitiço virou
contra a feiticeira.

antes que eu me esqueça
os dois raptores
arrumaram pra cabeça.

......................................................

bocós-de-mola: tolos
despacho: trabalho feito na encruzilhada
ou na cachoeira para atingir alguém pelos
umbandistas.
B.O: boletim de ocorrência
190: disque polícia.
o bagulho é doido: gíria para resumir uma situação
desconfortável, insólita, etc.
pegar meu vale: adiantamento salarial.
que arrumaram pra cabeça: que se meteram em confusão.
trocar um lero: conversar.

quarta-feira, 31 de março de 2010

raciocínio sobre a interpretação.



raciocínio sobre a interpretação.


o poema não é o que parece ser.
não parece ser o que é.

"o autor é o que vive e viveu, assim como o leitor."

o autor tem seu minicosmo e um epicentro.
seu epicentro tem o macrocosmo dentro dele.

então:

cada um tem o seu com seus altos e baixos
sujeitos à natureza.

porque, exemplos:

o mar tem a maré alta e a baixa.
o pássaro que voa alto e até o que vive
no monte, precisa vir ao solo para alimentar-se.

comparo os textos de um autor como frutas de um pomar.
umas, são doces; outras, azedas, ácidas,
que o autor colhe de acordo com seu estados espirituais, tais:
alegria, tristeza, agonia, êxtase, ira, e afins.

sem falar no que delas parem: saudade, lembrança, esperança,
confiança, etc;
sem falar das introspecções em que tenta fazer uma salada
de frutas como o resumo de seus estados espirituais;
sem falar que, no pomar, tem a fruta podre, sim, aquela que não
vingou, aquela que o pássaro bicou e a vespa a usou como
hospedeira.

o que é incrível é que o autor quer sempre aquela fruta lá da
copa da árvore, difícil de se apanhar, amadurecida e quase
despencando. e fica imaginando, embaixo (questão do
alto e baixo, de novo) uma jeito de como, como? como
fará pra alcançá-la. precisa ser inteligente e usar de toda
sensibilidade possível.

o autor, quando está neutro, mesmo que não queira --
absorve informações. o autor, nessa pausa, visualiza uma
fruta no pomar, mas não pensa em colhê-la. tudo a seu tempo.
de repente, vê-se seduzido. precisa colher esfomeado e divulgar.
procura as teclas, uma folha em branco, qualquer folha, pra
dar vida novamente a fruta.

interpretar, também, depende do estado de espírito
do leitor. exemplo: quando se perde um ente querido, procura-se
um texto, algo, sei lá, que preencha aquele vazio momentâneo, que
lhe sequem as lágrimas que restaram. raras vezes se procura
um texto de humor, de ironia com a morte. toda regra tem sua
excessão, mas normalmente procura-se um como desabafo.
se bem que palavras pouco dizem em tais passagens. daí vem o
ditado: " o tempo é o remédio para tudo".

interpretar é alçar voo. escrever, pôr ideias no papel, idem.
volto a frisar o pássaro que vem alimentar-se no chão...
dos altos e baixos, lembram-se?... pode ser um de nós, ei! --
será que haveremos de só fomentar a desnatureza?
será que só nós sonhamos? será que o que nos dintingue
dos outros animais -- nossa fala -- é o dom que temos de
não sermos o que parecemos ser, e de não parecermos ser
o que somos?

'não sou dono da verdade, apenas leio e interpreto.'

REHGGE.