terça-feira, 21 de setembro de 2010

a consulta.

a consulta.

aí vem o analista
e lhe dá um paleativo.

nem viu a careta que ele fez
espelhada em sua bola de cristal.

-- mas dotô, a dor que me incomoda
tá meio fora de moda... é dor de amor
sempiterno, acho.

-- ôô cabrão! que puta maricas és.
sejas macho, tchê. aguenta firme
e fala pra tua velha dar-te a dose de
8 em 8 horas que vais esquecer da puta
por mágica.

-- sei, sei. mas dotô navarro, que porra
de sonífero é este?

-- é minha receita pra corno manso
que acha que analista resolve a pendenga.
fuerza hombre! procura uma prenda mais
honesta que não manifesta subdesejos
indecorosos à bem valia da família
tradicional.

-- ahn! mas dotô, eu apenas quero esquecer
minha avó de 100 anos que ontem foi sepultada
e nem tive tempo de dizer-lhe adeus. e minha
mama querida me abandonou por um uruguaio
enquanto meu pai dava um duro danado
pelas estradas brasileiras e não marcava ponto
em casa.

-- ah, está explicado. se não és corno, cancela
esse paleativo. toma o cartão. vá até a cabocla jurema,
a benzedeira, e toma um passe. meus honorários
custaram-lhe a bagatela de 500 reais.

-- quêêê!! o senhor não resolveu meu problema!

-- ué? não leste a placa na porta de meu consultório?...
nela está escrito em letras garrafais: "Assistência
Amorosa e Encaminhamento a Almas Sofredoras & Afins".
é meu amigo, é o preço da informação.

-- só que com esse 'quinhentão' vou comprar um
plano funerário pra mim, pois certamente
virarei matador e perseguidor de cabrões como tu
que, em vez de fazer uma lavagem cerebral no
paciente, acaba por poluir o resquício de afeto
que ele inda possui. tá vendo o brilho
do meu trabugo?

-- soy macho sô! não temo a morte nem levo
desaforo pra casa, principalmente de bundas
moles com flertes psicóticos de machão...

-- ah é!

três tiros. dois no peito do analista e um que
estilhaçou a bola de cristal. estava feliz.
foi a floricultura e comprou um buquê de flores
para decorar o túmulo da avó. e já que não tinha
mais ninguém prometeu a si mesmo matar aquela
vadia que o traia com o dotô. e deveras resolvido
iria, pelo menos, escutar uma palavra
de conforto com a cabocla jurema e contar
seu caso. ah, mas se ela vacilasse com uma estorinha
própria dos charlatães, hum! -- mostraria-lhe o cano
reluzente de seu .38 dentro de sua ceroula e nem que
fosse de mentirinha ia ter de resolver seu caso (de polícia).









e

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