segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Poetas são ciumentos

Poetas são ciumentos

O espírito que habita nos poetas tem ciúmes. Ele é
atemporal (será?), mas o ciúme tem prazo de validade.
Tem aquela vozinha falsa e silenciosa -- que só o verdadeiro
poeta escuta, longe de ser assombrosa -- cochichante em
seu ouvido: "Externe versos ou cale-se pra sempre".
Aí que está o xis da questão. O poeta pode até deixar de
escrever, mas nunca se calará pra sempre, porque a vozinha
que ele escuta, na verdade, são captadas por seus olhos
que não veem o espírito, mas está ciente de que um dublê
o persegue e diz -- por ele, só pra ele -- do sentir intocável.

Poetas são ciumentos. Querem que tudo gire em torno deles,
sem hipocrisia. Poeta é tão ciumento que, quando se olha no
espelho, diz: "Sai daí, você está ocupando meu lugar! Que
cara é essa?" E desconversa-se... Acha-se o maior, reflete,
e fica no meio termo entre o belo e o feio. Acaba por ir dormir
achando uma e outra coisa, ou todas... com a traço dos desenhos
de carinhas tipo "emotions".

Acho o poeta um tipo de narciso incomum, pois ele cega-se
a seus defeitos e conceitos físicos. No espelho ele não quer ver sua
feição, mas seu estado de espírito. Dizem que a beleza vem de dentro
pra fora. Descreio, pois o nascedouro é externo, ou melhor, a beleza
está nos olhos, por isso eu me amo, e, sem querer ser egoísta,
digo ao espelho: 'Tenho ciúmes de tudo que reside em mim, até
desta minha cara definhante, mal acabada..."

sábado, 16 de outubro de 2010

O SAPATO DE MADAME

O SAPATO DE MADAME

Depois de uma festança regada a uísque e champanhe,
a madame, simplesmente e displicente, caiu na cama
desacordada após o porre e insinuações sexuais ao
jogador famoso que a chamara várias vezes de
'maria chuteira do sapato'.

Quando despertou, notou que faltava um de seus sapatos
em que fora à festa. Desespero! Cadê o sapato avaliado em
2 milhões de dólares? -- vociferou no quarto desarrumado
depois de um vendaval de procura inútil.

Junto com seus funcionários e serviçais fez uma varredura,
primeiramente em sua mansão e, em seguida, no local da
noite anterior em que adquirira a louca embriaguês. Refez,
de limusine, todo o trajeto até sua suíte presidencial.

Ah, um sapato folhado a ouro e contornado por diamantes...
Ligou pra polícia. Em seguida, pra seguradora. Desesperou-se.
No contrato havia uma cláusula que não cobria a típica
situação: a perda de um dos pés. Pôs anúncio no jornal, no
rádio, e nada. Sentiu-se a Cinderela mais imprestável e
infeliz sobre a terra...

Passada uma semana, o podador de árvores estava na
copa do pinheiro em frente à sua janela e encontrou o
sapato de madame dependurado num dos galhos.
(Não entendo como ela nem se deu conta do maldito vício:
o de chegar em casa e chutar os sapatos pra qualquer
lado).

Ela, além de recompensar o podador/jardineiro, deu
uma grande festa em que os convidados teriam que
adentrar o grande salão descalços e atirarem seus
sapatos o mais longe possível. Quem fosse o
campeão, ganharia ações de sua fábrica de sapatos
pra grã-finos exigentes com representação em vários
países da Europa e dos Estados Unidos. Pôde-se notar,
ali, que alguns chumbavam os pares a fim de levarem
vantagem, mas eram desclassificados após um exame
minucioso. Por isso, o campeonato foi regrado desde os
primórdios de sua invenção.

Foi assim, resumidamente, que nasceu o "Dia do
Sapato Voador" na alta sociedade. Esses ricos não têm
mais o que inventar pra se divertirem em noites veranescas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

no boteco...

no boteco...

bebo pra esquecê
também pra lembrá
da linda morena
que deixei no ceará

quem num bebe
vive pra me gorá
são asbs...o quê?
a-bs-tê-ni-cos
de enchê o picuá

os bonzão come pipoca
eu os piruá
aqui em sumpólo
os cabra são língua de aço
as muié de amargá,
de bichinho feio qui-nem-qui-eu
ahn!
num sabe se sô rato ou preá

saúde
ught!

ponha maiuma francenildo
num mi pergunta o-que-qui-há
que tô a fim de arrotá
pr'essa vida mardita
sem muito blá-blá-blá
inda ganho na mega sena
dô festa
vai tê buchada de bode & vatapá

aí vô buscá a linda morena
que deixei no ceará

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CHICO PIRULITO

CHICO PIRULITO
minha chica
pirulita do meu tabuleiro
achei você na rua
seminua
desprezada
chamando jesus de genésio
eta boca suja!
sentada no bueiro
pior que a mulher rendeira
que fazia renda pra mãe
e cometia sacrilégio

volte
por favor
até meu cão perdigueiro
sente falta de teu olor
a casa tá vazia
o jacarandá em flor
pras galinhas fiz um galinheiro
pras cabritas um cercadinho
fiz até um novo banheirinho
pra cagar sossegado o dia inteiro


minha raiva naquele dia
foi por causa da porcaria do amor
só porque dei uma de beija-flor
cê me traiu com aquele nego berebento
que na escola de samba toca tambor
com aquela camiseta do mengo encardida
parece aquele cara do filme de terror
fiquei feliz quando soube
que ele pegou uma gonorreia daquelas, eh, eh
e foi pro desfile com o pinto em chamas, ai, ai


tudo bem
comprei um garrafão de pinga
7 pacotes de cigarros do paraguai
mortadela e mussarela de muito sabor
tô regando o pinheirinho
pra gente encher de bolinhas coloridas
+ um pisca-pisca
(quem ver dirá que aqui tem um lar cristão)

pense bem nas compensações
mas sem retaliações

eu de sultão
você de odalisca
no natal/carnaval
desigual na canção
seu lindo estrebilho
onde teu galo levantará a crista
bicando teu famoso bolo de milho

desamassei as panelas
faxinei o barraco e o quintal
comprei uma TV usada
pra gente assistir a novela e o jornal
um bom vinho da terra do pinochet
ah, e um monte de pano de saco
pra fazer guardanapo com barrinhas de crochê

esse filho que você arrumou
hoje em dia é normal...
lembra da minha ex
que foi iludida por um cafetão
que do nada pegou a estrada
só com a roupa do corpo
meio que embriagada?

sabichona
disse que ia ser biscate
no distrito federal
ah, se meteu num assalto
e foi encontrada morta no asfalto
é, seguiu a procissão faroesteira
aventurou-se
cresceu o zoião
virou estatística brejeira

vem
que sem você ando meio espacial
não vamos chorar o que passou
daqui em diante tudo será legal
já pensou nós dois
dando uma piaba de bilhar
nos marrecos dos botecos
que acham que sabem jogar


vem vai
que agora eu caso
senão me arraso
e me apincho
na frente do trem da central
chupando meu pirulito
quer dizer
chupando um pirulito
minha marca existencial
meu apelido
que desde moleque tenho
quando eu passava com meu tabuleiro
e os manés me diziam:
e aí ô chupa-chups
chupa bonitinho
assobiando o hino nacional, ahá-ahá

maldita criação
fiquei liso que nem sabão
sabe que logo vou me aposentar
com uma carteira em branco
sem ficha no inss
sem conta no banco
mas a união faz a força, né não
tô até pensando numa conta conjunta
pra selar nossa paixão
já pensou eu e você
viajando pelo brasil
na carroceria dum caminhão
numa lua de mel eterna
à espera duma cisterna
pra nos refrescarmos nus
nos confins do sertão

que sonho, hein
sem sair do nosso barraco
nós e os nós
deste nosso amor/carrapicho
joga fora no lixo a incompreensão
o seu chico te aceita de volta
apesar da provável separação

ah, a plaquinha com nosso nome
pendurei na entrada do portão
pra você saber o quanto sou sincero
é, a que tem dois corações
unidos por uma flecha que perpassa-os
como um espetinho de churrasco
humm !!!
tô vendo o barraco em festa...















............................................................................






interminada.

tu és daninha que nem pimenta
por aí arde sem cabresto
no arreio te porei, jumenta
do seu fogo farei refresco

venha, minha erva mais fedida
com esse zoião arregalado
tem gramas mil pela vida
tenho a chave do cadeado

procotó, procotó
vem de mim tem dó
toc-toc, me toque feiticeira
tem um nó no meu gogó

terça-feira, 5 de outubro de 2010

2 POEMAS.

2 POEMAS.



poesia in-natura.

quero fazer um poema que fale em replantar árvores
para acolher as aves em extinção

que diga à figura humana que
ao lê-lo
não faça oposição nem ignore-o
como um copo d'água límpida que se atira no chão

quero fazer um poema que fale do ecossistema
ser o gene da evolução
mesmo que seja esquecido no desejo parido
de tanta involução

quero fazer um poema verdejante/anilado
pra todas as bandeiras
de norte a sul num recado
contagiar mentes negreiras
na tela branca da aquarela mundi
que de lágrimas tenho esboçado


...........................................................................


freda tinha o boneco
guido era ventríloquo

famintos e sem grana
na praça se encontraram
um plá e combinaram

fizeram uma pequena apresentação
uns trocados arrumaram

mataram a fome

freda foi pra cidade
guido pro sertão

saudades...

sempre voltam à praça
o ponto de partida
do interesse mútuo
onde um pelo outro
sentiu gratidão

ambos se procuram
pra revelarem
o desejo que se perde
como passos na multidão

sem falsa autodublagem
a grande frase que faltou
na encenação do show

já que na distância descobriram
tarde demais
que seus dirfarces eram reais

que o amor é bobo
engraçado

e o que une os casais
é o medo da separação

é a voz falsa
que engana o coração

é o maldito 'se'
se se tivesse
no ato
se revelado na graça
de um olhar que se apaga
se a boca diz 'não'