segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SÓ OS POEMAS SÃO ETERNOS

Só os poemas são eternos.


a professora primária
me obrigava a recitar
casemiro de abreu,
não entendia nada
nem sabia quem era eu.


agora entendo...
baita vontade de regredir!
à ingenuidade porvir
se hoje sei o que sou
daquele moleque que restou...

casemiro já estava lá
bem antes de minha história
num cantinho do céu,
por isso escrevi este poeminha
pra deixar na memória
antes que eu vá pro beleléu.

DELÍRIO

DELÍRIO

secou o leite da mãe.
seus filhos choram pelos cantos da casa.
na noite anterior, ladrões saquearam
suas cabras aleitadoras.
a mãe procura, no armário, o que cozinhar.
não há o que comer.
a mãe abandona a casa e sai com seus 3 filhos
pela estrada.
morreram um a um o nepotismo, a oligarquia e
a corrupção. ninguém os socorreu.

a mãe foi a última a morrer. ainda assim a tempo
de parir mais um filho.

um grupo de pobres paupérrimos, que marchava
pra brasília, o salvou. chegou a um consenso.
deu-lhe o nome de socialismo.

delirei, mas estava sóbrio demais...

Ter ou não ter.

Ter ou não ter.


Há um velho ditado que diz:

As 3 melhores coisas na vida do homem são:
Mulher, Dinheiro e Bicho de Pé.

Mas...

Gozado, podem ser as 3 piores!

ANTEVISÃO

ANTEVISÃO


O aprendiz supera o
octogenário mestre
numa síntese vital:

"Quando na velhice eu ver hoje,
Não terei tempo de reescrever o passado.

Meus dias futuros serão poucos --
Menores que as emendas
No livro de frases inescritas
E pensares inacabados.

É a minha verdade.

Daqui em diante,
Até o ponto final,
O que me consome
Não é meu tempo restante,
Mas meu vazio memorial."

QUADRINHAS IMPOPULARES

QUADRINHAS IMPOPULARES

O gato foge d'água
O morcego da luz,
Sou teu gato no banho
Morcego na noite a flux.

................................................

Homem foge da enxada
É enfado e canseira
Namora sem (na)morada
Sob teto de peneira.

......................................................



domingo, 29 de novembro de 2009

NA REPRESA

NA REPRESA

A garça pesca com o bico
Eu com o anzol a linha estico,
Pra mim é lazer, paciência
Pra ela é lida, sobrevivência.

BANDEIRAS

BANDEIRAS

A bandeira de Israel é bicolor.
A da Inglaterra é tricolor.
A do Brasil é quadricolor.
A de toda cor é monocolor.
Vejo branca.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

um poeminha de 1975 - meus 17 anos

um poeminha de 1975
(meus 17 anos)


estou sempre enganado a teu respeito
no que dizem me enfado de descrença,
mas sua comitiva são homens de direito
cultos, vis, falsos eruditos de nascença.


antes, na inveja, eu sempre o criticava
eu era o errado do enredo dos círculos,
os meus disfarces dia e noite justificava
teus vultos eram e são passos ridículos.

bem, agora vou à desforra inclemente
meu diploma é meu escudo de defesa,
água suja em sua vida foi mina vertente
da raiz brotadeira de minha esperteza.

teu viver ainda me desconfia, camarada
do meu não lembras, o fiz em capítulos,
na estrada sou carro veloz em disparada
não burro acabrestado entre discípulos.

nesse meio tempo quebrei as redomas
hoje sou o teu 'presentão' do passado,
astuto na tua índole peguei as caronas
pra aqui vê-lo definhar de bom grado.

estou sempre enganado a teu respeito
ah, mas dessa vez será meu o sucesso,
armo calmamente sei que tudo espreito
meu feito de derrubá-lo num só gesto...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

quadrinha popular

quadrinha popular

"lá em cima daquele morro
mora um velho relojoeiro,
quando vê perna de moça
faz relógio sem ponteiro."

Engana-se quem pensa que o mesmo
fica todo atrapalhado.
Ele aderiu a digitalização há muito...

estorvos

estorvos

engrenagem de dente quebrado
máquina do tempo emperrada,

barco de casco rachado
cavalo de pé trincado,

cratera sem ponte no descampado
estorvo de partida e chegada,

e na viola de corda esgarçada:

engrenagem de dente quebrado
futuro que não vem,

barco que não flutua
não leva ao paraíso além,

fobia de água
altura e fundura
aflição que me segura
me separa de alguém,

oh, meu amor
teu ícaro vai chegar

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PRECISO SUBIR A SERRA

PRECISO SUBIR A SERRA

Acostamento da Via Anchieta, sentido Santos.
Fim de semana prolongado...

"Tô aqui com minha fieira de siris - que recolho lá
no mangue - tentando descolar uma grana. Preciso
urgentemente dum baseado. Preciso subir a Serra
e comprar uns panos da hora nas barracas lá do
Parque Dom Pedro, na capital. Preciso perfurar uma
fossa no meu barraco.

Que inveja dos burgueses sorridentes com seus
carrões e cartôes de crédito/débito. Onde irão?
Sei lá... Guarujá? Ilha Bela? Peruíbe? Litoral Norte/
Sul?... sei lá. Sei que parecem felizes.

Preciso subir a Serra... Ficar numas de pegar uma
onda, bater uma bolinha no final de tarde de dias
comuns, já não me satisfaz. Preciso subir a Serra.
Sinto-me no vácuo a meio caminho das belas cidades
da orla e da imensidão do Grande ABCDM e Sampa:
dois horizontes tão iguais. Serei uma aberração social,
inanimada, entre tantos normais?

Pô! meus dentes estão careados. Meus chinelos furados.
Meus pés, cascudos, nunca calçaram sapato brilhante
lá da China. Pô! até na minha favela tem boy com
uns trapos da hora... se deram bem em alguns sub-
empregos... é...

Preciso subir a Serra. E me ver, no futuro, passar por
aqui de carro, com uma grana legal. Preciso descolar
um trampo com Carteira Profissional assinada, sei lá,
na construção civil, talvez.

Preciso subir a Serra. Aqui, na baixada, favelado sem
instrução só serve pra chafurdar no mangue... o mar
não é tão belo...

Preciso subir a Serra. E, um dia, preso neste
engarrafamento, olhar de relance pros manos meus
com suas fieiras; olhar lá pro mangue, lá pra favela
da Vila do Resto, e dimensionar minha felicidade,
minha situação com a destes turistas em trânsito.

Preciso subir a Serra já! Tem muito catador de lixo
reciclável se dando bem lá em cima... quem sabe eu...?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DOIS POEMINHAS DE IMPROVISO

INSÔNIA

ó insônia de mais um cigarro
após outro no canto da cama
desperto engolindo o pigarro
e ela, escrivaninha me chama

no espelho me tiro um sarro
de cara amassada sem pijama
um rolê... num texto esbarro
porra! ufa! cadê minha flama?

se na noite vazia me amarro
o resto de vodka me inflama
ei, já bebi toda água do jarro!

minha voz interior proclama
saia! sem rumo, sem o carro!
e volte pra tirar uma pestana...


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SEM CONTROLE


ah, meu descartável besteirol
de tanto reviver na vida vadia
frustrada de pensar em caracol
do algo mais que dela eu queria

ter minha juventude em formol
vencer já os sulcos desta porfia
não me ater ao alto colesterol
rejuvenescer sem brigar no dia

no negror deste quarto ter o Sol
que meus fantasmas espantaria
com meus ais roucos em bemol

tom definhante já sem a fantasia
de ter o rubor moço da fina escol
mas velho, de que me adiantaria?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

inteligência também é treino

inteligência também é treino


desinteligência
vem do gene.

cumé que fico
se sou mini
minimenino
que nem sapo na lagoa desenhada?

que nem rei sem coroa
que perdeu a majestade
que agora é majestoso à toa
se é menos que mini sua pessoa?

mini
super
mas com treino
recoloco a coroa
a lagoa sai da gravura

burrice ninguém atura!

desse negócio
de mini e super
vem do gene
desconfio.

mente brilhante faz foguete
mente brilhante não trava o câncer...

minha minimenina inteligência
diz-me pra evoluir
ser inteligente brincando

e ver
e pôr tudo
do jeito que quero.

o penúltimo recado

o penúltimo recado

ei, veja bem
o que te disse
nunca jurei a ninguém,

tua falta me traz
tamanha desalegria,
tira minha paz;

ei, veja bem
não seja fujona
sou o neocafona
insurgente audaz
em palavras decoradas
refletidas-quebradas,
mas tão sentidas
nunca mais
de mim ouvirás;

ei, veja bem
revire no passado
meu último recado
enviado em desarmonia,
inda sou o cara quadrado
rolando na cama vazia;

ei, veja bem
nem por um momento
troquei meu sentimento
te passei pra trás,
nem disse te amo
a um amor fugaz.

ei!
semana que vem
te mando outro
pra ti ou alguém...







quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O OLHAR




o olhar
às vezes ao nada
às vezes subjetivo
é só um olhar,
mas há o olhar
que resume um livro

o meu
reflexivo
mostrou-me
que é hora de te ver

o OLHAR
interior
exterior
triste
alegre
normal
um simples piscar
pode ser o silêncio
pode ser o carnaval

mas o olhar que me comove
è O TEU
que de qualquer maneira
DIZ-ME TUDO
sem que eu possa decifrar
se tu crês também
que é hora de me ver

terça-feira, 17 de novembro de 2009

UM CAUSO

UM CAUSO

Dois caiporas conversando, encostados
no mourão da porteira:

-- Sabe cumpade, o Jão Leitão morreu de água no joeio.
-- Hã! Como foi isso, cumpade?
--O Zito Ferrero catô ele de jeito lá na barranca do rio.
Mandô ele entrá n'água com as mão e os pé amarrado.
Fincô uma vara, no barro, prele se apoiá.
-- Mas como, cumpade, uma vara?
-- Sim sinhô. É que o Zito sabia que o Jão Leitão num
pudia ficá de pé, por causa da água no joeio. Aí, o Zito,
mandô ele plantá bananeira, apoiado na estaca com
água inté o joeio.
--Intão ele morreu afogado, né cumpade?
-- Verdade, mas com água inté o joeio.
-- O Zito tá funicado, né?
--Num sei. Sei que ele levô a muié do Jão com ele.
Parece qu'ele virô matadô, virô capanga dum coroné
lá do Mato Grosso. Vigilante, sabe cumé! O Zito
fica armando as arapuca pra quem tentá se aproximá
das muié do coroné.
-- É meió nóis tomá uma com carquejo. Como o cumpade
soube do causo?
-- O padre contô na missa. Disse que o Zito ficô endemonhado
quando pegô uns bietinhos, que sua muié mandava pro
Aristeu Boca Rica, na carteira do Jão.
O Aristeu ninguém sabe, ninguém viu. Escrafedeu-se se.
-- Vamo picá a mula. Correio, né cumpade?
Ovi dizê que lá em Sum Paulo as gentes conversa
nas televisãozinha...
-- Pois é, né. Sabe que a cumade tá me encheno o picuá
preu comprá um computadô!?
-- Num diga. Num carece não. A minha tamém.

A MUSA DA AVENIDA INDUSTRIAL

A MUSA DA AVENIDA INDUSTRIAL



Quando passo de ônibus,
pela avenida Industrial,
já é noite velha.
Sempre te vejo, recostada
na parede da esquina.
Hum!
você de beibidol,
às vezes de roupinhas íntimas
de sex shop...
Meu dedo, sem juízo,
fica a ponto de apertar o gatilho.
Hum!
você de véu de noiva,
de enfermeirinha...
muito rampeira, eu sei,
mas tem o ímã de meus olhos.

Um dia peço pro motorista
parar de repente,
dou até 5 reais pra ele,
pra ficarmos frente à frente.

Não quero nem saber teu preço!
De tanto passar, te desejar,
sei que mereço amanhecer nos
teus braços.

"Ah, teve um cara, um dia,
que quase teve um treco:
desceu pra um programa,
se fodeu,
quando descobriu
que sua musa era um traveco."

Ah! não importa!
Refaça-se o sonho
da bunda mais linda que já vi!
A gente vive mesmo
num mundo de faz-de-conta
e diz-que-diz hipócrita,
num quadradismo social...

Aiii!
Só oral, só anal...
Nossa! que puta vã filosofia!
... quanta caranga invocada
estacionada!...
deixando mulher de lado
pruma fantasia depravada!

Não vai me custar nada,
afinal,
tem mulher com mulher,
tem homem com homem,
tem mulher que quer ser homem,
tem homem que quer ser mulher,
tem até homem com mulher, pasmem!

Eu?
Sou muito macho!
Só quero dar uma variada.
(curiosidade malandra, tipo
recrimino mas não abomino, manja?)

Quem me garante que
minha musa não é mulher?!

-- Motorista! Quero descer!


LIBÉLULA PURPURINADA

LIBÉLULA PURPURINADA

camaleoa hormonizada
embaixatriz da madrugada
aceno aos motorista
em ziguezague na calçada;

sou a batgirl
de cinta-liga bem enfiada,
bandas durinhas
com gel bem rapadas,
no meu indicador
um falso brilhante,
na cabeça um arquinho
na peruca esvoaçante,
no rostinho de boneca
cera quente, maquiagem,
um arzinho de tarada;
nem pareço o soldadinho
que aos 18 de molecagem
era a alegria da moçada,
aquartelada
em prol da pátria amada;

perfume francês
fecho os olhos à concorrência
de ciganas siliconadas,
meras barbies avantajadas
vendedoras de aparência;

o prazer que ofereço
não tem preço,
minhas pernas roliças
sem celulite nem varizes
sem cicatrizes,
apesar do futebol
bronzeadas ao sol, hum!
minha minissaia
salto agulha
batom carmesim, hum!
cílios postiços
cinturinha em remelexo, hum!
é mais que pretexto!

um dia me livrarei
deste pinto e testículos horrendos,
aposentarei o esparadrapo,
do farrapo
masculino que me resta,
serei aos caçadores noturnos
a Libélula Purpurinada
mais invejada
dos puteiros desta estrada.