quarta-feira, 18 de agosto de 2010

PIF-PAF

PIF-PAF
(Chico Estradeiro, um andarilho)

Meu mano, depois de beber e cafungar a noite toda,
passou por mim e me perguntou quem era ele.
Repliquei dizendo que ele era ele. Mas ele treplicou
e disse-me que eu era ele quando a doideira passasse,
se bem que desejava continuar doido pelo resto da vida.
...

Tirei da carteira uma foto 3x4 e lhe dei. Aí ele sorriu e
me disse "Tchau, meu eu!". Ahn! -- respondi -- Falô
meu você! (?)".
Por um momento quis estar na pele dele. Mas será que
não estava à baila minha caretice toda?...
(pensei em fumar um basic pra destrinchar a questão).

...

Semana passada me chegou a notícia que ele morrera de
overdose num sarau de malucos no litoral norte, onde
o cachimbo da paz passava de mão em mão. Aposto
que ninguém mais sabia de si àquela altura do
campeonato.

...

Éramos bem parecidos. Ontem fui visitar seu túmulo,
com uma flor de plástico jogada ao lado, no cemitério.
Vi que a foto da placa era a minha, a que eu havia lhe dado.
Mas me chamou a atenção o epitáfio:

"Vou pra não sei onde,
mas não esquecerei os malucos
que aqui deixei.
Sou você amanhã."

...

Porra! Mas não é que é? Me caiu a ficha face a tamanha
sobriedade... Eu sou você, você é eu...
Somos todos farinha do mesmo saco de quem faz o pão
alimentar pra tudo virar bosta... pra bosta virar adubo...

PIF-PAF! Esta vida é mesmo um jogo rápido.
Serão os corpos espíritos que saem dos espelhos?
Tô endoidecendo ou será que assimilei e fui contagiado
pelo afã libertino que ele me passou? Sei não.

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