sexta-feira, 22 de abril de 2011

ESCALADA.

ESCALADA.



Esta vida é mesmo uma escada.
Uma, de sobe e desce.
Quem sobe, sorri.
Quem está no auge, de repente, desce.
A sorte é amiga de poucos.
Entre tantos mais,
vejo mais um que se desiquilibra e padece.

Soltei rojões, meio a foliões,
mas nem sabia o que comemorava;
nem sabia que, pra pedir, eu podia
estar em qualquer lugar,
-- de pé ou de joelhos --,
que minha queda fosse suave,
a um ser supremo eu clamava

em gritos,
em frases maltrapilhas
que, como lâminas me sangravam;
que, num dos hospitais de terminais,
eu acabara de entender que a vida
era como a Lua numa fresta de janela:
que chega mansa e silenciosa,
inanimada... e se apaga
como um corpo que morre
e renasce noutra noite
sem que se possa mudar
o quadro abstrato, tal a visão
dum coração frágil, pois,
se não se entender seu ciclo,
a vida não representa nada.

Somos passageiros livres,
pensadores livres,
aprendizes febris em busca da paz,
tão abstrata e perseguida, mas...
há um tempo na vida
que todos os conceitos e preconceitos
descartamos;
que toda riqueza é a mansidão do rio cristalino,
é o pensar que as águas levam;
é a revelação da única razão dum ser,
'doentio ou não'
que está no poço fundo,
no ápice dos risos fugazes;
é a imperfeição perfeita;
é o sobe e desce;
é a escalada de sangue, suor e lágrimas...
e patéticos profetas gesticulando nas praças;
é a indústria -- as filiais, a produção serial
de temas decorados no livro...
é a escada milagrosa;
é a rosa no roseado duma face;
sou eu, perdido nos degraus
desde os primeiro choro...

Meu norte são direções que,
sem destino certo,
minha aversão a meu fim me motiva
a esperanças fugidias
que, por si mesmas, à natureza dos fatos
me envolve como a mão energética
dum deus-astronauta
que comanda todos os astros.

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