terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

limpando o caixilho de dejetos, limpando o caixilho de dejetos,

limpando o caixilho de dejetos,
sou o maior poeta do mundo. ponto. e daí?



sou o rio grande;
vocês, meus afluentes.
sou o tietê, de esgoto
esgotado de água pura
lesmando caudalosamente...
sou o sol
vocês, astros gravitantes
tal insetos no facho de luz.

e vosmecê é o quê?
fala o quê?...
inda prosas conservadoras
da borboleta azul?,
da florzinha amarela?,
meloso,
diz que vê a vida
de cima do muro...?

tem hora que
a barragem bufa,
transborda,
transforma o quadradismo
de mentiras ilusórias,
aleatórias, provisórias,
peremptórias...


olha lá, hein!
aaláá, aalá, olha!...
que Alá cá do meu lado,
endiabrado
em dia de brado,
aflija-me com raios
se a porra do caralho
que sai da minha caneta
seja só o mau hálito
e o suor fétido
duma canção horrorosa
de quem não fica
vendo a banda passar.

digo:
sou o tietê,
sou você,
sou vosmecê.
sou o fio da barba
do trato inescrito
(não preciso assinar este texto).

isso!
defequem palavras!
brasas!
vitupérios!
berrem ao meu ouvido palavrões
pichados na parede memorial!
façam um poema sujo, maldito!
rosnem feito cães impacientes!
faxinem seus podres!

ah, dirão os intelectuais
meneando as cabeças
com seus contrastes clausurais:
-- que texto imbecil!
-- que revolta sem causa!
-- de nada acrescenta à literatura,
às belas artes!

sim, deletem!
viva a mesmice!
vivaaaaaaaaaaa!
viva,
mexi os pauzinhos,
notaram meu ostracismo, viva!
(será que estão irriquietos
agitando a bunda gorda na cadeira?...)


sou mesmo libertino.
até fornicando faço versos
lindos, incoerentes, sanguinários...
e ao salafrário
que quiser me contestar, replico:
lá no necrotério
vi um corpo indigente em decomposição,
pensei:
hum, sal grosso,
a churrasqueira em brasa...
poesia numa hora destas, como?

de que vale gritar,
blasfemar, amar?...
tudo é sem sentido.
já não me dói revê-lo morto,
nem o que foi e porquê.
dói-me rever o corpo,
a última visão
do final comum...

em resumo:
o resto que inda prezo
ao que inda presto...
o resto é um saco de palavras
flutuando na merda.

vou fechar a latrina
para escrever textos aprazíveis.
tenho que formatar a mente.
acabei de passar o antivírus.

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