terça-feira, 15 de dezembro de 2009

meu gato morreu

meu gato morreu!


meu gato morreu!
o tiro era pra mim.
os mano lá de baixo
têm artilharia pesada:
38, 45, fuzis militares.

meu gato morreu!
e não tinha nada com a treta!
tentei dar uma chapeleta nos cabeça
na transa do busão roubado
e das jóias do condomínio...
ah, pisei na bola com a farinha também.
eu sô mesmo cabecinha de merda!

se foda!
me fodo no trampo
e tenho que dar tudo de mão beijada!
eles lá de baixo só ficam na administração!
que se fodam, então!
jacaré na minha área vira bolsa.

armaram cilada
lá na viela:
as azeitonas faziam zuimmm...
e eu com o meu gato no colo
correndo no meio dos barracos.
todo mundo passou a tramela
por causa do ferro frio na goela,
e se escondeu debaixo da cama.
cambada de cusão!

o tiro certeiro do atiradô
estourou a cabeça do meu gato!
sujou minha camiseta nike
que uso pra fazer um 'h' com as minas
(nem sei quantas já enchi) .

é... a favela tá em guerra;
milico aqui passa de banda,
são os bandidos dos bandidos, é;
aqui o estatuto é outro
'a lei é nóis que faz':
matou/morreu;
roubou malaco da nossa ou doutra facção,
pode encomendar os santinhos de luto...

tá mais sujo que pau de galinheiro,
pau-de-arara é refresco,
linchamento público na pracinha do poder
é a melhor opção...


meu adorado gato morreu
debaixo do varal colorido
entre as placas de telhas brasilit
dos vãos fedorentos
que separam lixos de sobras
que os ricos descartam.

meu gato morreu!
virou comida de urubu
vô sumir do mapa
descolar uma farda legal
uns carangos pra desovar
com os malucos lá no matagal;

nem vai dar tempo de falar tchau;
já meteram fogo no meu barraco,
já esfolaram meu conhecidos;
a gente se cruza por aí,
vô pra cima,
não tenho medo de cara feia, amarrada
de quem comeu e não gostou.

meu gato morreu.
sô meio pioio;
pensando bem,
antes ele do que eu.

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