sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SOU O CARA MAIS POBRE QUE CONHEÇO

SOU O CARA MAIS POBRE QUE CONHEÇO
Não tenho celular nem computador.
Vivo de favor.
Não tenho roupas novas nem acessórios de valor.
Não tenho emprego nem um tostão.
Não tenho televisão nem geladeira.
Vivi por viver a vida inteira.
Não tenho ambição nem religião,
nem barraco na favela.
Não tenho um gato pra puxar pelo rabo.
Mas tenho aparência de nobre.
Só por isso sou invejado. Pode?
Nunca pensei no futuro.
Abomino o passado.
Sou um vagabundo, dizem, sonhador.
Sou honesto demais, humilde.
Vivo no avesso do mundo.
Só almejo um pão minguado.
Nasci e morrerei pelado.
Sei que causo aos burgueses enfado.
Mas se eu morrer agora, foda-se!
Já me bateram na cara.
Já fui humilhado.
Já peguei arma pra matar.
E devia ter matado!
Mas não!
Valentia foi manter meu punho abaixado!
Meu desejo é social-democrático, direi.
Quero enxada pra cultivar uma roça.
Quero ficar longe do capitalismo selvagem.
Não quero ter rosto.
Quero só alimentar-me.
Quero adoecer sem incomodar ninguém.
Quero ser livre e não dar satisfação.
Sou órfão sem família? E daí?
Se eu morrer agora, e daí?
Quantos indigentes não morrem nos Brasis,
nas Àfricas afora?
Ainda tô por aqui, cada vez mais distante.
Cada vez mais a luz do fim do túnel se enfraquece.
Cada vez mais me afundo na lama.
Cada vez mais um baseado me engana.
Gosto de perambular pelas ruas.
Gosto de sentir-me vira-lata.
Gosto de dormir ao relento.
Gosto da vida ingrata.
Gosto de ser fedorento.
Tudo não passa de um esgoto maquiado, perfumado.


Amém.





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